Série: Os Sete #1
Páginas: 526
Editora: Novo Século
Ano: 2000
Gênero: Suspense, fantasia, ficção
Sinopse: Uma caravela portuguesa de cinco séculos é resgatada de um naufrágio no litoral brasileiro. Dentro dela, uma misteriosa caixa de prata esconde um segredo: sete cadáveres aprisionados, acusados de bruxaria.
Mergulhadores encontram essa caravela naufragada no litoral do Rio Grande do Sul e dela retiram vários objetos, inclusive uma grande caixa de prata. Apesar das advertências grafadas no objeto de prata, a equipe do Departamento de História da Universidade de Porto Alegre decide violar a caixa para estudar os corpos. Afinal, que perigo poderiam oferecer aqueles sete cadáveres? Nenhum. Quando a caixa é aberta, sete vampiros do Rio Douro, Portugal, acordam passam a espalhar terror no Brasil.
Vou começar a resenha dizendo que meu primeiro erro foi ler esse livro em ebook. Sabe aquela sensação de que o livro não acaba nunca? Pois é, foi o que aconteceu comigo. Os Sete, a grande aposta do autor André Vianco que é o cabeça do Vivendo de Inventar, acho que, atualmente é um dos melhores cursos de escrita criativa que o Brasil tem (Depois do de Raimundo Carrero, obrigada), contudo, esse livro - considerado o melhor dele - não funcionou comigo. Acontece, né? Foi a mesma coisa com a Paula Pimenta, todo mundo ama, mas não funcionou comigo, simplesmente. Achei que a narrativa às vezes se arrasta um pouco, sei que tem uma edição nova, mas essa que eu li foi uma experiência meio sofrível em boa parte. A mitologia do livro lembra um pouco Drácula e até mesmo (incrivelmente) true blood só que sem a parte da pornografia. O livro tem sim pontos fortes e tiveram partes que eu realmente gostei, mas avaliando num geral não foi uma leitura que me pegou, sabe? Não é um livro que eu leria de novo. Mas vamos ao enredo.
A história se passa no litoral do Rio Grande do Sul em uma cidadezinha (mais vilarejo que cidade) chamada Amarração onde um par de amigos, Tiago e César, encontram no fundo do mar uma caravela naufragada. Aparentemente o artefato era considerado lixo marinho, ninguém parava para reparar o valor histórico daquilo, mas os amigos sabiam sim tirar proveito daquilo. Imagens, moedas, qualquer coisa de valor histórico era tirada do barco e vendida por uma boa quantia a entendedores do assunto. Pensando em ganhar uma bolada, eles decidem gravar uma de suas visitinhas ao barco e, ao entrar, encontram uma espécie de caixa de prata com uma palavra gravada: INVERNO. Eles imaginam que dentro da caixa possa haver algo de extremo valor por isso, decidem levar o vídeo para Eliana, uma amiga de infância e estudante de história da Universidade de Porto Alegre já prevendo que eles se interessariam demais no artefato e pagariam o que pedissem para pôr as mãos nele.
Assim, começa uma verdadeira operação resgate na pequena cidade litorânea que se torna uma base de pesquisa a fim de desvendar os segredos da caravela portugesa que, ao que consta, foi naufragada propositalmente. A caixa de prata, o objeto mais desejado, continha sete nomes gravados: Inverno, Acordador, Espelho, Gentil, Tepestade e Sétimo. Sob ela, gravada na prata, uma advertência para que nunca a abrissem, pois ela aprisionava em si demônios. Como cientistas são ateus (em sua enorme maioria) o aviso foi ignorado e a caixa, aberta, revelando não documentos e tesouros como era esperado, mas sete cadáveres secos trajando farrapos de roupas antigas. Enquanto se amontoavam para olhá-los, Eliana acaba se cortando em uma das serras e, ao apoiar-se na caixa, gotas do seu sangue caem sobre um dos cadáveres.
Enquanto os cientistas, liderados por Delvechio o mentor de Eliana, observam o cadáver e estimam suas curiosas mortes suspeitando serem acusados de bruxaria, um deles começa a se regenerar absurdamente. Com sua regeneração, um frio incomum devora a cidade e o laboratório improvisado. Tiago - o menos cético de todos - adverte-os de que seria melhor devolvê-los à caixa e encerrá-los novamente, mas os cientistas não lhe dão atenção. Ele alerta ainda para os nomes gravados na caixa fazendo a conexão do nome Inverno com o cadáver se recompondo, mas novamente ninguém lhe dá ouvidos.
Quando o cadáver se recupera totalmente e, por fim, acorda, descobrem que ele é português, pois sua fala é bem característica, ele faz um monólogo desconexo para Eliana enquanto olha admirado ao redor e, pegando um dos cadáveres secos, vai embora. Três soldados tentam impedi-los de sair de lá e são congelados até a morte. Com a libertação de Inverno uma espécie de caos se espalha pela cidade. Paralelamente, vamos acompanhando algumas subtramas na história que, mais tarde, vão se interligar aos vampiros. Depois de colocar o corpo em um lugar seguro - e descobrimos que aquele é o cadáver de Sétimo, o irmão aparentemente odiado mais que os outros -, ele decide voltar para resgatar seus irmãos e devolver-lhes a vida contudo não contava com as novidades que lhe cercam, sabe que não está na terra que um dia chamou de lar.
Nesse ponto eu abro um parêntese para falar desse aspecto dos vampiros que eu achei muito legal. É super engraçado - e muito pertinente - o modo como eles lidam com os avanços da humanidade, afinal eles passaram quase 500 anos trancados na caixa de prata. Por 493 anos eles estiveram "mortos" para a instituição da república e os avanços tecnológicos, a história do livro se passa no ano de 1999, final do século XX. É muito engraçado e interessante como eles agem e se interessam pelas coisas mais bobas do nosso cotidiano como luz elétrica, geladeira, trens, carros, aviões, etc. E os nomes que eles dão a essas coisas também. Uma das partes que mais ri foi quando eles invadiram um trem de carga e se perguntaram porque os humanos guardavam roupas "nas caixas do fórum". Essa cena foi hilária. Achei esse ponto do livro muito bacana e bem coerente com a história. A maneira como eles falam também ficou bem colocada e adequada à época e ao país do qual vieram. Para mim esses foram os pontos mais fortes do livro.
Bem, voltando ao enredo, Tiago começa a se preocupar com o que o vampiro havia dito antes de partir e sugere a Eliana que os dois partam sem deixar rastros, pois a criatura voltaria por causa dela. Fica meio que na cara que eles tem ou tiveram um rolo. Ela aceita ir com ele e os dois partem para São Paulo sem dizer a ninguém. Contudo, após enfrentar uma horda policial e conseguir seu segundo irmão, Manuel, Inverno descobre que os outros irmãos desapareceram. Ele e Manuel saem da brigada policial - não sem matar uma dezena de soldados - e partem para buscar um abrigo do sol para, em seguir, partir em busca dos irmãos. Os vampiros de Vianco são "alérgicos" a prata e alho. Morrem com a cabeça decepada e os corpos queimados. Ao contrário dos mitos não são subjugados por crucifixos embora não entrem em igrejas - creio eu que pelo pacto com Lúcifer.
Na empreitada de ir atrás dos outros irmãos a gente vai descobrindo um pouco mais da discórdia que os "une" e do medo em comum por Sétimo, embora não saibamos inicialmente por que. Manuel é o Acordador, seu poder é despertar os mortos. Inverno se chama Guilherme. Conhecemos logo em seguida (e de uma vez) Fernando, o "Espelho" capaz de se transformar em qualquer pessoa, Afonso, Lobo, transforma-se em uma fera letal, Baptista, Tempestade, manipula os ventos e é capaz de fazer juz ao seu apelidinho de criar tormentas e, Miguel, gentil, o que tem o poder maior de todos; parar o tempo. Quanto a Sétimo, suas "habilidades singulares" só são reveladas no fim do livro, ele é conhecido como o Irresponsável. Por aí vocês já tiram. Com todos reunidos, São Paulo, Porto Alegre e Amarração vão conhecer um terror e uma confusão nunca antes imaginada por ninguém, um rastro de morte e sangue segue com os monstros agora à solta e a confusão entre eles aumenta a tensão de velhas mágoas.
Quando Eliana é sequestrada por eles, Tiago vai atrás dela, mas como um simples humano pode ser capaz de salvá-la? Poderia Miguel, o gentil, servir-lhe de arma uma vez que não compactua com o sadismo dos outros?
Um outro parêntese que abro aqui é para as personagens. Essa Eliana é uma completa inútil. Sabe aquele tipo de personagem que não serve para porcaria nenhuma? Submissa, patética, mocinha indefesa a espera do príncipe? Pois bem, é ela. Claro que a gente avalia a situação, mas teve vários momentos que ela poderia ter agido por si mesma e pelo outro, mas nada. É uma morta. Das demais personagens eu não consegui simpatizar com ninguém. Sério, a história gira em torno de umas 10 personagens e eu não consegui gostar de ninguém. Na verdade, em boa parte eu torcia mesmo era pros vampiros por incrível que pareça. Para não generalizar e dizer que detestei todos, gostei de Miguel, ele conta a história de como foram parar naquela caixa, a gente entende seus motivos no final, apesar de no começo ele parecer bem chato. Não curti o fim dele. De resto, achei todos os outros personagens vazios, não consegui sentir simpatia com nenhum.
Tiago é aquele metido a sabidinho, mas que na maior parte do livro não raciocina NADA. O cérebro dele é basicamente inútil. César é quase um avarento sem graça. Delvechio é um cético pateta, O padre Cantor que eu pensei que seria de alguma serventia não serviu de nada. E a brigada militar brasileira eu nem vou comentar. As partes do livro que envolvem história também ficaram muito legais, fazem a gente pensar que nunca deu muita bola para a história do próprio país e que ela pode sim ser fascinante. Tiveram algumas cenas que me incomodaram bastante, principalmente pelo fato de serem muito detalhadas, como a cena do assassinato do caminhoneiro e do estupro da guria de SP. O livro tem cenas desse tipo, bem grotescas, se chegasse a ser adaptado com certeza eu não veria, seria muito 'sangue grátis' e eu não curto.
Eu dei 3 de 5 estrelas, fazendo um balanço geral da história a minha experiência de leitura não foi de um todo prazerosa, não sei se por ter lido em ebook ou porque a história não me envolveu mesmo. Mas acho que foi principalmente pelo fato de ela se arrastar um pouco as vezes, tinha umas coisas que na minha opinião poderia ter enxugado mais. Contudo, é um bom livro, tem um enredo interessante, só não funcionou comigo, acontece.