Dia #3 Escreva uma história sem absolutamente nenhum diálogo
Não via as horas. O tempo parecia ter deixado de existir ou se resumido naquela existência de exatidão. O relógio deixou de ser importante, não ligava mais para o minuto seguinte. Não doía mais. O mundo se resumia em um montante de palavras que se assomavam na folha branca, a letra garranchada tentando acompanhar o pensamento. Inútil. Não existia pressão, não havia os desejos ou as expectativas de outrem, só as folhas, só as palavras, só seus inseparáveis amigos silenciosos que falavam com o íntimo do seus pensamentos.
O mundo finalmente alinhou-se aos seus sonhos, tornou-se tinta, imprimiu seu mundo, protegeu seu coração. Em um canto da mesa as cartas ainda por abrir, a foto solitária no porta-retrato de vidro e a imaginação que voava solta pelas paredes do quarto branco, simples, sem detalhes demais, tranquilo como seu espírito. Todos os seus medos abrigaram-se do lado de fora da porta de ferro, assim como as pessoas. Os estranhos ali não lhe notavam e os que o faziam não lhe apontavam dedos críticos, não exigiam suas expectativas frustradas, não lhe tratavam como um objeto defeituoso. Para eles, ela era uma pessoa; para ela, no âmago do seu ser escondida na paz da alcova alva, uma criadora.
As palavras eram suas ferramentas, a folha o alicerce de sua construção, o seu mundo, o seu eu. Eram um só, ela e as palavras, naquele mundo de loucos que precisava de abrigo, naquele lugar onde as esperanças pareciam perdidas, naquele campo branco de bonecas feridas, ela encontrara o descanso para seu espírito, a liberdade para suas palavras, a quietude para seu coração, a calma para sua doe, a segurança para os seus medos.
E na clínica de bonecas, com damas de branco e almas dolorosas, uma nova história acabava de ser criada.
Escrever sem diálogos não foi exatamente um problema pra mim, eu procurei apenas me concentrar em um ponto que eu queria abordar. Veremos o que tem pra amanhã!
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