Dia #6 Escreva uma história no estilo de um autor que você odeia
Esse dia vai ser mesmo difícil pra mim, porque não tem um autor ou autora que eu realmente odeie, há histórias que eu realmente detesto por alguma razão, por exemplo, eu não gosto da escrita da Paula Pimenta de jeito nenhum, eu detesto a série Imortais da Allison Noel, tenho um trauma da Paula Hawkins e aquela maldita garota no trem, nunca mais ou ler um livro do James Patterson porque a escrita dele, pra mim, é muito insípida ou mesmo o vazio quase total da E.L. James, mas não odeio nenhum deles, na verdade, acho que a minha vida inteira a única pessoa que eu cheguei a odiar realmente foi a mim mesma. Então, escolher escrever como um deles é realmente uma tarefa que eu não me sinto na capacidade de fazer porque, apesar de não gostar das histórias deles, nenhum deles (com exceção da James) escreve mal. O problema da James, como eu disse, não é nem tanto a escrita dela ser realmente ruim, é ser... como direi, insípida e infantil. Mas eu não sou nenhuma crítica literária para estar apontando isso de um best seller, né? É só minha inútil opinião. Então, para o desafio de hoje, o que eu escolhi fazer, pegar um desses autores e tentar, e vejam que eu disse tentar reproduzir em uma cena ou um conto o que eu não gosto na história dele. Mas isso é difícil porque eu tenho aquela mania inconsciente de consertar as coisas enquanto as faço. Por isso, há uma grande possibilidade desse desafio de hoje sair muito frustante. Mas, não seria desafio se fosse fácil, né? Vamos lá...
Beijo Técnico
Roberta caminhava de um lado para
outro com as folhas de cena em mãos. Qualquer um podia ver que ela estava tensa
e mesmo sem saber a razão de toda aquela agonia era difícil não se compadecer
com a angústia da jovem. Impaciente, Amanda, a mãe de Roberta, caminhou até a
filha a passos rápidos e precisos para saber finalmente o motivo de tamanho
desespero.
—
Que há Roberta? — Perguntou cruzando os braços sobre o peito.
—
Nada, mãe, só estou nervosa com um teste. — Deu de ombros.
—
Acha mesmo que nasci ontem? Você nunca fica nervosa com cenas! — Disparou a mãe
com a sobrancelha erguida na expressão incrédula. — Que tem essa cena de tão
especial?
—
Hmmm... Nada demais. — Roberta pôs as folhas nas costas apertando-as com as
mãos suadas.
—
Deixe-me ver. — Amanda falou com uma voz autoritária.
—
Mas...
Antes
de completar o protesto a mãe tirou-lhe o papel das mãos e se pôs a observar:
Cena 09 – Ato I
Casa de Amélia – Dia
[Luna entra afobada no apartamento de Amélia
esperando encontrá-la, mas é Diegu que está lá, ao vê-lo ela para estática.]
LUNA
Não sabia que...
DIEGU
É bom ver você, Luna.
LUNA
Volto depois...
[Luna se prepara para sair, Diegu a impede indo
atrás dela e segurando-a pelo pulso.]
DIEGU
Não vá agora, por favor.
LUNA
É que eu...
DIEGU
Até quando vai fingir que não sente a mesma
coisa?
LUNA
De que esta falando?
DIEGU
Disto...
[Os dois se beijam.]
Os lábios de Amanda curvaram-se com
um sorriso travesso ao ver a última frase da cena grifada com um marcador de
texto. Ela simplesmente devolveu o roteiro para a filha e lhe sorriu dando um
beijo delicado na testa e saindo em seguida para seus afazeres anteriores.
Roberta a olhou sem entender e pegando a mochila saiu de casa sem falar nada.
Era fim de tarde e o teste seria no dia seguinte, Roberta estava mais que
acostumada com aquilo, fizera teatro desde os nove anos, amava estar sobre o
palco, viver milhões de personagens diferentes, mas nunca, nunca enfrentara este dilema antes. Sempre pegava papéis
secundários, mesmo antagonistas no caso das peças mais longas, mas nunca
passara por isso antes.
A peça fora escrita por Marco, um
dos seus melhores amigos e por isso ela fora escolhida para ser a protagonista,
era sua grande chance e Marco escrevera a personagem para ela, mas nunca
imaginara que precisaria passar por isso. Era constrangedor. Aos dezessete anos
de idade, Roberta nunca havia beijado um garoto, o que era comum para as outras
garotas, para ela era apavorante só de imaginar! Só havia uma pessoa que
poderia ajuda-la naquele momento: Anna. Quando avistou a casa da amiga ela
bateu apressada sendo recebida pela mãe da garota, Emma.
—
Anna está, senhora Perkins?
—
Sim, querida, pode subir ela está no quarto.
Erguendo uma sobrancelha ao fitar o semblante
tenso de Roberta, Emma sorriu ao fechar a porta e ver a menina subir os degraus
de dois por vez. Sem bater, Roberta abriu a porta do quarto da amiga que, calmamente,
passava sua falas diante do espelho.
—
Rob! — Ela falou sob efeito do susto. — Onde ficaram seus modos?
—
No mesmo lugar que minha coragem! — Replicou a adolescente com a voz trêmula.
—
Que aconteceu? — Anna largou o roteiro sobre a cômoda e sentou ao lado da amiga
na cama.
—
Há uma cena de beijo na peça, a mesma
cena que farei no teste amanhã! — Anunciou com pesar na voz.
—
Ora e o que tem isso demais?
—
Como posso interpretar um beijo técnico se nem ao menos sei como um beijo de verdade funciona?!
—
Quer me dizer que é BV?! — Anna olhou a outra, incrédula.
—
Sim, quero dizer... — Admitiu Roberta, apavorada e envergonhada.
—
Não acredito! — A amiga falou com surpresa e entusiasmo. — Como assim nunca
beijou um garoto?
—
Não houve oportunidade! — Mentiu.
—
Roberta! — Censurou Anna sabendo que a amiga mentia.
—
Ta bom... Isso me apavora! Por isso não arrisco namorados. — Disse a verdade por
fim.
—
E quem faz o par com você? Ainda não me inteirei de todo o elenco.
—
Não acreditaria se eu dissesse...
—
Bom, então tente.
—
É o Antony Prist.
—
Você vai perder o BV com Antony Prist?! — A expressão entusiástica de Anna só
aumentou o nervosismo de Roberta ainda mais. — Menina você não tem que estar em
pânico, tem que estar eufórica! É o garoto mais lindo, popular e inteligente de
toda companhia!
—
Não é tão simples, Anna... amanhã vou falar com ele antes do teste e... dizer
que não posso fazer a cena.
—
Não pode simplesmente desistir de um papel principal, não por uma bobagem, Rob!
No beijo técnico os lábios mal se encostam! Apenas fique tranquila! E sempre
achei que o Tony tinha uma quedinha por você.
—
Não está ajudando muito! E não diga bobagens!
Dia do Teste
Roberta olhou no relógio pela
milésima vez. Mal dormira na noite anterior e sua cabeça doía
insuportavelmente. Antony ainda não havia chegado o que aumentava mais sua
ansiedade. Ele era um cara legal, mais velho que ela dois anos e mesmo que
tivessem se falado poucas vezes não havia como negar a atração que havia entre
os dois. Uma química inegável nos palcos e fora deles. Antony era o ator mais
talentoso da companhia de Artes Cênicas da Carolina do Norte, inteligente,
cavalheiro, sério e inegavelmente lindo. ‘Bom
demais para ser real’ pensava Roberta, quando ele finalmente apareceu,
faltando apenas vinte minutos para o teste de cena. Ele lançou um olhar confuso
para a garota que parecia tremer mais que o normal:
—
Oi, Roberta, você está bem?
—
Tony, eu não posso... — Disse ela, lívida, sem conseguir encará-lo.
—
Roberta, sério acho melhor você sentar... Vem comigo. — Ele falou puxando-a
para um pufe que havia no cenário e abaixando-se em sua frente. — Aconteceu
alguma coisa? Você está pálida como um fantasma.
—
Sei que... A gente não se conhece direito e tals, mas eu não posso fazer o
teste com você. Não essa cena que escolheram. — As palavras
saíam atropeladas e Roberta tremia.
—
Algo errado? — Ele tentava em vão fazê-la encará-lo.
—
Eu... Não dá. — Roberta fechou os olhos com a cabeça baixa. A voz trêmula e um
nó de ansiedade comprimindo sua garganta.
—
Quando eu escolhi a cena do teste achei que te passaria confiança, afinal eu já
a vi em inúmeros testes antes.
—
Espera... — Ela falou reavaliando mentalmente o que ouvira. — Você escolheu a cena?!
—
Sim. Quando Marco me disse que você seria a Luna eu...
—
Então você sabia...
—
Claro que sim! Acha que eu escolheria essa cena pro teste com a Anna ou a
Vanessa?
—
Mas...
—
Ora, Rob, pensei que já havia percebido que gosto de você. — Os olhos dela
encararam os cabelos negros, os olhos azuis e o sorriso perfeito de Tony,
sentiu seu rosto queimar e imaginou que estava vermelha.
—
Não sei beijar... — A revelação saiu sem que ela percebesse, um sussurro solto
como se ela estivesse hipnotizada pelo semblante de Tony.
—
Sério? — Os olhos dele se iluminaram e um sorriso brilhou em seu rosto.
—
Antony, Roberta! A vez de vocês. — Marco anunciou gritando.
Roberta estava estática, Tony a
puxou para sua posição e lhe olhou nos olhos docemente:
—
Ei, apenas faça a cena como uma cena qualquer, deixe que eu a guie e não tenha
medo. Confie em mim, Rob, nunca faria nada que machucasse você.
Foi
difícil para Roberta segurar o coração palpitante ao ouvir essas palavras, Tony
se posicionou sentado em um sofá no cenário quando, depois de respirar e
encorajar-se mentalmente por dez vezes, ela entrou em ação.
—
Desculpe... Eu... Não sabia que... — Roberta não precisava fingir, seu
nervosismo era real.
—
É bom ver você, Luna. — Tony sorriu, tentando acalmá-la.
—
Volto depois... — Ela virou-se na posição errada do palco, ansiosa para fugir
dali.
—
Não vá agora, por favor.
—
É que... eu...
—
Até quando vai fingir que não sente a mesma coisa? — O sorriso doce de Tony abalou-a,
ele estava sendo sincero. Não estava
atuando.
—
De... Que esta falando? — As palavras quase não saíram.
—
Disto...
Segurando seu rosto entre as mãos,
calmamente, Antony aproximou o rosto de Roberta acariciando levemente as maçãs
de sua face delicada, os lábios se encontraram delicadamente, ele a guiou com
paciência em cada movimento e desceu as mãos pelas costas dela apertando-a de
encontro ao seu corpo em um abraço completo e protetor, Marco levantou batendo
palmas junto com os demais atores que assistiam ao teste e quando os lábios de
Tony desgrudaram dos seus Roberta sentiu-se tonta.
—
Perfeito! — Exclamou Marco. — Qualquer um que visse, pensaria que estavam em
uma situação real.
Tony
abraçou Roberta e apenas riu. Sem jeito, ela simplesmente o olhou e sorriu, mal
sabia Marco que escrevera a cena perfeita para o momento certo.
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