Gênero: Dark Fantasy
Ano: 2002
Páginas: 160 (físico) 338 (ebook)
Sinopse: Coraline acaba de se mudar para um apartamento num prédio antigo. Seus vizinhos são velhinhos excêntricos e amáveis que não conseguem dizer seu nome do jeito certo, mas encorajam sua curiosidade e seu instinto de exploração. Em uma tarde chuvosa, consegue abrir uma porta na sala de visitas de casa que sempre estivera trancada e descobre um caminho para um misterioso apartamento 'vazio' no quarto andar do prédio. Para sua surpresa, o apartamento não tem nada de desabitado, e ela fica cara a cara com duas criaturas que afirmam ser seus 'outros' pais. Na verdade, aquele parece ser um 'outro' completo mundo mágico atrás da porta. Lá, há brinquedos incríveis e vizinhos que nunca falam seu nome errado. Porém a menina logo percebe que aquele mundo é tão mortal quanto encantador e que terá de usar toda a sua inteligência para derrotar seus adversários.
Quem me fez adiantar a leitura desse livro foi a Haru, no vídeo ela dizia que era muito mais sombrio e "pesado" que o filme, bom, até certo ponto eu tenho que concordar com ela mesmo, contudo, apesar de conter uma leveza bem maior se comparada à obra, acredito que o filme fez bem em adaptar sim o livro, muitas das coisas que foram mudadas na adaptação são completamente compreensíveis uma vez que, por ser feito em stopmotion, seria inviável reproduzir tudo igualzinho ao livro. A história acompanha uma criança chamada Coraline cujos pais trabalham muito e quase não tem nenhum tempo para ficar com ela, a família se muda para uma nova casa durante as férias de verão, lá ela descobre uma porta que leva a um mundo paralelo.
Nesse mundo onde tudo é igual a sua casa, mas de um jeito melhorado, Coraline se depara com um ser que quer ocupar o lugar da sua mãe e se alimentar da sua vida. Ao recusar-se, a menina descobre na volta para casa que seus pais foram sequestrados pelo monstro. Sem saída, ela determina-se a salvá-los, voltando ao mundo paralelo com a ajuda de um gato falante e muita coragem advinda do amor dos pais, contudo, conseguir a liberdade deles com o jogo sujo da criatura pode custar-lhe a própria vida.
Gosto de encarar Coraline como uma metáfora sobre a importância da presença dos pais no desenvolvimento dos filhos, quando eles desaparecem, Coraline lembra com saudade uma vez que o pai se deixou picar por vespas para que ela conseguisse escapar, ou mesmo em outro momento quando ela é pega por ele no colo. O motivo de ela ter encontrado e atravessado aquela porta foi simplesmente porque ambos os pais estavam ocupados demais para dar-lhe um pouco de atenção, se bem que uma das principais discrepâncias do livro e do filme é que, no livro, Coraline tem uma relação até certo ponto mais próxima com a mãe, no filme elas parecem um pouco mais afastadas.
A bonequinha que aparece no filme não existe no livro, assim como o personagem Wibe, mas acredito que tenham sido acréscimos charmosos à história. A ambientação também foi um pouco modificada em ambos, no filme é um pouco mais colorida e há o jardim que no livro também não existe. O livro também traz alguns posicionamentos que achei bem interessantes.
"Vocês pessoas têm nomes. Isso é porque vocês não sabem quem vocês são. Nós sabemos quem somos, portanto não precisamos de nomes." Acho esse, inclusive, uma colocação um pouco profunda demais para um livro direcionado a adolescentes, mas ainda assim muito válida, a origem do que somos, para onde vamos, qual nosso papel na existência, perguntas que provavelmente continuarão indefinidamente sem respostas. Nós nos apegamos a coisas que nos definam porque somos incapazes de nos reconhecer, de saber o nosso papel no universo, portanto, todas as coisas que agregamos em nossas vidas são apenas formas de nos definir como criaturas. Pelo menos é como encaro.
"É surpreendente o quanto do que somos depende da cama onde acordamos pela manhã, e é surpreendente o quanto isso é frágil." Aqui é sobre o medo humano muito comum de mudanças, eu mais que ninguém sofro desse mal, nós temos uma ligação muito forte com aquilo que nos é comum, com o que molda o nosso mundo, qualquer tipo de coisa que fuja disso faz com que nossa paz interior desmorone, essa também é a razão pela qual nós sofremos tanto para nos acostumar com as novidades. As coisas que mantêm nosso mundo em seu estado de "normalidade" é o que nos mantêm em paz conosco, o que nos faz ter aquela sensação de segurança interna.
"Eu não quero tudo o que eu quiser. Ninguém quer. Não realmente. Que graça teria ter tudo que se deseja? Em um piscar de olhos e sem o menor sentido. E daí?" Eu achei esse pensamento muito interessante, somos levados a crer que seríamos felizes se tivéssemos o poder de conseguir tudo que queríamos sem qualquer tipo de esforço, sem qualquer sofrimento, mas a verdade é que no fundo sabemos que não seria de qualquer sentido ou não traria qualquer realização algo conseguido com facilidade. Se pararmos para pensar, pessoas que tem tudo não teriam motivos para ter qualquer tipo de problema como depressão, por exemplo, uma vez que tem tudo que querem nas mãos. A coisa é que, as vezes, receber um não nos motiva a buscar o sim, a ser melhor do que somos, a superar nossos limites em prol do objetivo que temos para nós.
Coraline é um livro sobre reconhecer aquilo que é realmente importante para nós, as coisas que realmente nos trazem felicidade (e sou daquelas que acredita que felicidade é algo estritamente subjetivo), sobre buscar coragem quando o medo ameaça nos engolir, sobre a importância de reconhecer e aceitar os defeitos daqueles que amamos e perceber que é isso que os torna especiais. Um livro sobre a certeza de que, nem sempre tudo que queremos é o que precisamos ou o que nos tornará feliz e que amar verdadeiramente é, sobretudo, deixar livre.
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