Eu costumava amar dias chuvosos... O reconfortante som das grossas gotas esparsas agredindo furiosas o solo e o telhado das casas,a suave música da água tocada pelo vento forte que uivava nas janelas de casa como fantasmas anunciando sua desesperança e procura por uma paz que nunca vinha...
Sim, eu amava esses dias. Quando minhas preocupações se resumiam em fantasias infantis e cada novo ruído era uma aventura e não um conto de terror, quando meu mundo era cheio de vida e luz.
E como esses mesmos dias chuvosos têm uma denotação diferente agora. Como soam iguais aos gritos silenciosos que ecoam na tormenta da minha mente... Quem é, pois, capaz de enxergar a tempestade que destrói tudo dentro de mim? Quem é capaz de compreender o modo como me sinto?
Olhando para fora, para o céu cinza chumbo que preenche o espaço além vista, para a espessa cortina de água que despenca do rasgar doloroso dos céus, eu imagino que a natureza compartilha da minha tristeza, que ela ecoa os gritos presos na minha alma, gritos aos quais não posso dar voz... E as lágrimas desesperadas da chuva são aquelas que sou forçada a reprimir dentro de mim.
Mesmo as palavras nas quais tanto confiei para me manter de pé estão me virando as costas, compactuando com a ilusão imposta a mim por aqueles que me cercam, elas fazem parte da fachada de realidade na qual me prendem para que eu permaneça estável, para que meu equilíbrio frágil não desmorone.
Diante desses dias, me sinto como um paciente terminal, sobrevivendo aos dias enquanto espera a morte iminente dentro de horas, minutos, dias, semanas, meses... Ah, quanto tempo resta? A tão temida e tão almejada... O quando e o como que assombram a vida dos mortais desde os primórdios de sua existência.
Então fico imóvel. Nublada e silenciosa como a natureza que me cerca, enquanto por dentro meu mundo tempestuoso se desfaz em ruínas. As gotas de chuva cantam uma música triste... Uma música sem letra que acompanha as palavras embaralhadas na minha mente, palavras sem sentido, sem coerência, tão mal feitas quanto todas as quais tenho me enganado sob a pífia mentira autopiedosa do "bom trabalho". E essas mesmas palavras outrora confortantes e refugiosas hoje me empalam na lança da escuridão ao me trairem.
Mas logo tudo termina... E elas ficarão perdidas em algum lugar. Ou talvez, quando eu finalmente desaparecer, alguém encontre nelas um sentido, quando eu mesma não tiver mais sentido, quando ele não mais importar, porque é o que fazem as pessoas, e é por isso que as odeio, que odeio ser uma delas.
Rejeito-me mais que a qualquer um, sobretudo. Odeio-me com a mesma energia que um dia fui capaz de amar as palavras que hoje me viraram as costas, moatrando-se tão traiçoeiras quanto qualquer pessoa que antes me ferira... E não rezo mais, pois não há diante de mim qualquer esperança de luz, qualquer sentido para continuar, que direito tenho eu a salvação? Abrigar-me-ei no silêncio sombrio dos dias que seguem a espera do fim... Do momento em que me consolidarei como o nada que sempre fui.
Katharynny Gabriella.
17.05.2018 às 15:53
oi,gostei muitoo do seu blog <3
ResponderExcluirOlá, fico muito feliz, obrigada pela visita, volte sempre!
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