quinta-feira, 17 de março de 2022

[Livro] Os garotos do cemitério

 

Original: Cemetery Boys

Autor: Aiden Thomas

Ano: 2021

Gênero: YA, Fantasia, LGBT

Sinopse: Quando a família latina bastante tradicional de Yadriel tem problemas para aceitar sua verdadeira identidade de gênero, Yadriel torna-se determinado a provar que é um verdadeiro bruxo. Fortemente conservadora, a comunidade bruxe não permite que ele passe pelo ritual, com a desculpa de que a Senhora Morte não iria aceitá-lo, por conta de sua identidade de gênero e orientação sexual. Com a ajuda de sua prima e melhor amiga Maritza, ele decide ele mesmo resolver o problema, na expectativa de encontrar o espírito de seu primo assassinado e, então, libertá-lo.

No entanto, o fantasma que ele invoca é, na verdade, Julian Diaz, o bad boy da escola... e Julian não tem interesse em deixar esse mundo tão facilmente. Ele está determinado a descobrir o que aconteceu e resolver algumas pendências e pontas soltas antes de partir. Sem escolha, Yadriel concorda em ajudar Julian, para que ambos possam obter o que querem.

O que Yadriel não esperava era que, quanto mais tempo passa com Julian, menos quer que o garoto se vá.

Yadriel e sua prima Maritza se esgueiram pelo cemitério para a igreja onde o garoto vai fazer seu ritual de iniciação às escondidas de sua família. Isso porque ele é um garoto trans cujo pai, que não aceita sua orientação, se recusa a permitir que ele se inicie como bruxo e seja aceito por quem é por toda a sua comunidade de bruxos. O próprio Yadriel tem suas dúvidas se a senhora morte, a quem eles cultuam desde o início dos tempos, lhe aceitará por quem ele é e não pelo gênero que nasceu, já que todas as mulheres bruxas de seu clã são destinadas à cura. Contudo, o ritual dá certo e Yadriel é abençoado pela senhora morte como um bruxo, mas nessa mesma noite descobre que seu primo Miguel morreu e não há qualquer sinal do corpo dele.

Decidido a se provar como bruxo, Yadriel tem a ideia de conjurar o espírito do seu primo e, após saber o que aconteceu, libertá-lo para o pós-vida, isso será suficiente para que todos o aceitem como bruxo na comunidade. Só que o ritual de invocação dá certo, mas ao invés de Miguel, quem aparece é Julian Diaz, um bad boy da escola de Yadriel. Julian não se lembra como morreu ou o que sua medalha estaria fazendo dentro da velha igreja do cemitério, mas se recusa a deixar Yadriel libertá-lo para o pós-vida enquanto não tiver a certeza que seus amigos estão bem. Sem ter o que fazer, o garoto acaba aceitando o acordo, o dia de los muertos está próximo e, se ele libertar Julian diante de todos, pode provar seu poder como bruxo.

Contudo, as coisas não vão ser tão fáceis quanto parecem. Quando finalmente encontra os amigos de Julian, Yadriel se vê tão perdido quanto no começo, porque eles próprios não fazem ideia do que aconteceu ao amigo, apenas que ele desapareceu enquanto tentava ajudar um deles que estava sendo atacado por alguém — que também ninguém viu quem era — e descobre que outros três garotos também haviam desaparecido antes. As buscas não saem  muito bem e não há qualquer sinal de Miguel tampouco. Em casa, a família de Yadriel continua tratando-o como um pária e se recusando a vê-lo por quem ele é, seu pai, sobretudo, insiste em rejeitar sua natureza magoando o filho. 

Paralelamente, Yadriel e Julian se aproximam mais do que o garoto bruxo acha que é correto. Ele tem consciência que em algum momento vai precisar deixar o espírito de Julian ir para o pós-vida e, quando isso acontecer, os dois nunca mais se verão, mas a possibilidade se torna cada dia mais difícil para Yadriel. Quando o espírito de Julian começa a dar sinais que pode se tornar maligno antes do tempo, só resta ao jovem bruxo mergulhar na história do seu povo para tentar encontrar uma solução que mantenha Julian perto dele por mais tempo e respostas para o desaparecimento de seu primo.

Confesso que não estava dando muito nesse livro não quando comecei. Achei logo que era mais um desses livros com adolescentes irritantes que dão chiliques pelas menores coisas e não sabem resolver nada com diálogo. Bem, apesar de ter adolescentes irritantes, a história passa bem longe de ser superficial ou chata, ela só demora um pouco a engajar. Nós somos introduzidos devagar a rejeição de Yadriel e todo o seu conflito familiar e interno, isso nos aproxima do personagem, ao contrário de Julian que demora um pouco mais para despertar nossa simpatia. Maritza, pelo seu próprio papel dentro da história, consegue cativar logo no primeiro capítulo. E essa imersão com as personagens é o que nos mantém concentrado na história, além da maneira incrível como o mistério está sempre presente.

Tanto a problemática do preconceito contra LGBT quanto contra os Latinos é expressa de maneira sutil dentro da história e mostra um lado da frágil "liberdade" americana que não se divulga muito. Achei isso muito legal porque gera debate e reflexão. Além disso, o mote central do livro é o mistério, não conseguimos largar até saber o que aconteceu com o Julian e o Miguel, embora eu tenha matado a charada bem antes, logo quando a vovó Lita estava contando sobre a mitológica lenda das garras del jaguar eu já tinha pegado o que aconteceu e quem aconteceu, algo inédito pra mim que nunca consigo acertar os assassinos de Agatha Christie. O livro equilibra bem romance, comédia, fantasia e terror sem exagerar em nenhum ponto. 

O final foi um pouco previsível? Foi. Pelo menos para mim, mas não tirou nem um pouco o encanto de como as coisas aconteceram e a grata surpresa de ter sido feliz contrariando as expectativas que o autor tentou implantar nos nossos corações haha. Valeu muito a pena, eu terminei de ler até antes do previsto de tão imersa que fiquei. Recomendo demais! 

[Drama] Lovers of the red sky

 

Original: 홍천기

Direção: Jang Tae-Yoo

Roteiro: Jung Eun-Gwol (novel), Ha Eun (adaptação)

Episódios: 16

País: Coréia do Sul

Ano: 2021

Gêneros: Histórico, Romance, Drama, Fantasia

Elenco: Kim Yoo Jung, Ahn Hyo Seop, Gong Myung

Sinopse: Os céus podem fazer o homem dos seus sonhos aparecer tão facilmente?

Hong Chun Gi é a única pintora mulher a conseguir entrar no palácio de Joseong. Ela compartilha interesses amorosos com um astrônomo cego e com o príncipe Anpyeong, que é entusiasta de arte e terceiro filho do Rei Sejong.

A mãe de Hong Chun Gi um dia orou aos céus para que enviassem um pretendente para casar com sua filha e quando um jovem homem surpreendentemente bonito cai do céu bem na sua frente, Hong Chun Gi acredita que ele foi mandado diretamente do céu só para ela.

O jovem chamado Ha Ram, é praticamente cego graças a um acidente que sofreu durante uma cerimônia da chuva. Ele ocupa uma posição no palácio como astrônomo e, após conhecer Hong Chun Gi, ele descobre que há um mistério maior envolvendo seus olhos.

Onde Achar: Kingdom Fansub, LuannaSou Translate

Não tinha como esse drama dar errado ou ser ruim quando era baseado numa novel da Jung Eun-Gwol e, sério, essa mulher é maravilhosa, tem todo meu respeito. Para quem não sabe, ela é a a autora de The Moon That Embraces the Sun, simplesmente meu drama coreano favorito até hoje!

O drama conta a história de um demônio chamado Ma Wang que espalhava a discórdia e o caos pelo mundo. Ele foi aprisionado por três divindades, mas acabou possuindo o corpo de um rei da dinastia Dan (se bem me lembro) que derramou sangue desenfreadamente por longo tempo. Finalmente, ele decide se livrar do demônio em seu corpo, ciente de todo o mal que causou enquanto vivo, assim, ele ordena que se faça um ritual de selamento e contrata um pintor divino para pintar um retrato seu onde Ma Wang seria aprisionado, o ritual dá certo, mas, furioso, o demônio amaldiçoa Eun Oh, o pintor divino, e todos os seus descendentes a ficarem cegos e nunca mais conseguirem pintar. Nesse mesmo dia, nascia Ha Ram (Ahn Hyo Seop de Abyss, Queen of the Ring e Still 17), o filho de um nobre do palácio e Cheon Gi (Kim Yoo Jung de Love in the Moonlight e Clean With Passion) a filha do pintor que estava prestes a ser morta por lobos quando sua mãe morreu no parto, mas é salva por Sam Shin, uma das divindades que combateu Ma Wang no passado.

Anos se passam e durante um festival para pedir aos céus por chuva após nove anos de seca, Ha Ram cuja família vinha de uma linhagem divina com poder da água, é escolhido para ser o sacrifício do ritual, o rei assegura que não desejava que fosse feito o sacrifício humano, pois era contrário à filosofia de Confúcio, mas a xamã, secretamente, planeja desobedecer essa ordem sabendo que sem um sacrifício de morte o ritual não funcionaria. É no percurso para lá que Ha Ram conhece Cheon Gi que está cega desde que nasceu por causa da maldição de Ma Wang, os dois se tornam amigos. No dia do ritual, os dois príncipes mais jovens entram no pavilhão onde está o retrato que prende Ma Wang e, atraído pelo chamado do monstro, o filho do meio queima o retrato para permitir que o demônio entre nele, mas o talismã que usava repele o ser que o fere e deixa o pavilhão atrás de um recptáculo.

A xamã tenta matar Ha Ram que acaba caindo na água e trazendo a chuva, ao mesmo tempo que Cheon Gi, que procurava por ele, também cai na água. Para selar Ma Wang, Sam Shin o prende o no corpo de Ha Ram e arranca seus olhos, a fonte do seu poder. Assim, o garoto é trazido de volta, cego e com olhos vermelhos, enquanto Cheon Gi começa a enxergar. Quase vinte anos se passam e Ha Ram se tornou um erudito no palácio real com o plano secreto de se vingar daqueles que conduziram o ritual e arruinaram sua vida. Ele se torna amigo do príncipe mais jovem Yan Myeong. Enquanto Cheon Gi, cujo pai enlouqueceu e não se lembra mais dela, se torna membro da academia de pintura, ela vive constantemente em busca pelo remédio do pai e para conseguir dinheiro falsifica pinturas de grandes pintores.

O destino coloca Ha Ram e Cheon Gi no mesmo caminho quando ela está fugindo de bandidos e acaba se escondendo na liteira dele. A magia que os une é imediata e ela se vê encantada pelos enigmáticos olhos rubi dele. Mas a aproximação também desperta Ma Wang dento de Ha Ram e, ao dominá-lo, ele acaba matando vários homens do rei. Perdido, ele acaba desmaiando no meio da floresta quando estava indo atrás de Cheon Gi para conseguir seus olhos de volta, mas é impedido por uma das divindades. Ela o ajuda levando-o para uma tinturaria e cuidando dele. Assim, os dois se reaproximam sem saber quem o outro é. Quando o príncipe Yan Myeong anuncia um concurso para encontrar um pintor, Cheon Gi vê a chance de encontrar um raro remédio para o pai que só é produzido pelos médicos do palácio, assim, contrariando seu mentor, ela se inscreve e é ajudada por Ha Ram.

Com um amor predestinado, eles precisarão contar com suas habilidades para libertar Ha Ram de Ma Wang antes que este o domine por completo e para isso, Cheon Gi precisará correr o risco de restaurar o retrato do falecido rei, que carrega uma maldição de enlouquecer todos os que o fazem, enquanto os príncipes disputam um jogo político pelo trono e o futuro do país ameaçado pela tragédia.

Achei o drama maravilhoso! Sério, ótimas atuações, mas com um elenco desse não tinha como ser diferente. Kim Yoo Jung que também fez ponta em The Moon That Embraces the Sun traz uma Cheon Gi que é esperta, corajosa sem deixar a fragilidade, Ahn Hyo Seop maravilhoso como sempre, esbanja talento em um Ha Ram com postura aristocrática, inteligente estrategista e de coração dividido entre o amor e a vingança. Há outras carinhas conhecidas também como Gong Myung que esteve em Bride of Habeak na pele do jovem e bondoso príncipe Yan Myeong. É um drama que equilibra bem comédia, drama e aventura, tem uns efeitos especiais maravilhosos que encheram meus olhos e não tem aquela parte em que geralmente os acontecimentos dão vontade de dormir, mas os conflitos são bem distribuídos e mantêm a gente vidrado o tempo todo!

Quanto ao final, é feliz contrariando boa parte das expectativas que começam a surgir na gente pelos últimos capítulos, mas foi um final feliz que deixou algumas lacunas sem explicação. Mas não importa, mesmo que não tenha sido redondo como um coco foi lindo e mostrou o casal principal que é o mais importante então valeu a pena sim. Mais uma obra dessa autora incrível que eu queria ler, mas não acho nem tradução em inglês. Acho que vou ter que estudar coreano pra poder ler mesmo #sofro. Recomendadíssimo!

segunda-feira, 14 de março de 2022

[Livro] O Confronto

Original: The Struggle

Autor: L. J. Smith

Ano: 1991

Série: Diários do Vampiro #2

Gênero: Suspense, fantasia, romance

Sinopse: Há muito tempo, quando transformou Damon e Stefan em vampiros, a bela Katherine nunca imaginou que separaria os irmãos para sempre. Seu coração pertencia aos dois, mas ambos a queriam para si. A batalha pelo coração da jovem culminou em sua morte e num pacto de vingança entre os irmãos Salvatore. Refém do acaso, Elena Gilbert não demora a perceber que, se existe algo mais arriscado do que estar apaixonada por um vampiro, é ser desejada por dois deles. Enquanto Stefan luta para controlar seus instintos, Damon persevera na missão de conquistar Elena; mas o perigo espreita o destino dos três.

Na sequência de Despertar, Elena confronta Damon para conseguir encontrar Stefan,  mas além de ser vago, o vampiro tenta convencê-la a se transformar e ficar ao seu lado, algo que a garota se recusa prontamente. Desesperada e com medo de Damon, ela não vê alternativa além de pedir ajuda à Bonnie para localizar o namorado. Enquanto Stefan continuar desaparecido, ele será considerado culpado da morte do professor Tunner. 

Bonnie usa seus poderes para tentar localizar Stefan e, com a ajuda de Meredith, elas vão até a ponte procurar pelo vampiro. Matt as segue e, após pensar um pouco sobre a descrição de Bonnie, deduz que Stefan está preso em um poço. Após fazer uma redução de alternativas, os quatro encontram o vampiro numa fazenda abandonada e o levam de volta para sua pensão. Vendo que o namorado está muito fraco, Elena da um jeito de ficar sozinha com ele e o alimenta com seu sangue.

Pedaços do diário de Elena começam a aparecer na escola depois que ela enfrenta Caroline que espalhou para todos que a garota estava namorando um assassino fazendo com que todo o colégio comece a evitar Elena. Ela encara como um ataque pessoal, mas não desconfia que a ex melhor amiga possa ter pego seu diário. Sabendo que ele pode ser usado como prova para incriminar Stefan, Elena pede a ajuda das amigas para invadir a casa de Caroline e roubar o objeto. Contudo,  o plano da errado e por bem pouco ela não é pega pela família da garota.

Encurralada no telhado, ela é abordada por Damen que lhe faz novamente a proposta de ser imortal e lhe escolher ao que Elena recusa. Ele então lhe oferece um acordo, pegar o diário pra ela em troca de alguns minutos do seu tempo e de um pouco do seu sangue, mas ela também recusa. Desse modo, sem tempo, ela não vê outra alternativa além de contar toda a verdade para Stefan revelando todas as mentiras que ela havia dito.

Stefan fica irritado com ela, mas perdoa e juntos os dois formam um plano para impedir Caroline, mas não conseguem. Contudo, são surpreendidos por Damon que os havia salvo. Elena acaba discutindo com quem tia e, furiosa, vai embora, mas é atacada por alguma força que ela acredita ser Damon (mas obviamente sabemos que é Katherine) e acaba morrendo afogada.  Furioso com o irmão por acreditar que ele havia feito aquilo, Stefan ataca Caroline e seu grupinho que tramou contra ele para obter poder suficiente para enfrentar o irmão.

Elena acorda como vampira. 

Sinceramente, li esse segundo volume para ver se rolava simpatia pelas personagens, mas foi muito mais do mesmo. Um bando de aborrecentes nos arroubos dos amores passageiros que não vão dar em nada com dois vampiros sem tempero. Eu não consegui mesmo estabelecer nenhuma conexão com as personagens e achei Caroline uma vilã tão besta que nem valia a pena ter raiva dela. Picuinha de ensino médio americano como filme de sessão da tarde.

Não vou continuar a série, pelo menos não pretendo. Achei muito chato, sem brilho e, comparado com Vampiro Secreto, esse livro da L. J é muito fraquinho. Mesmo sendo igualmente um livro Ya,  Vampiro Secreto consegue ser cativante e manter a gente preso em todas as páginas, com personagens interessantes e simpáticas. Estou até com medo de ler O Círculo secreto porque eu assisti a primeira temporada da série e gostei muito.

sábado, 12 de março de 2022

[Livro] O Amante Japonês

Original: The Japanese Lover

Autor: Isabel Allende

Ano: 2015

Páginas: 294

Sinopse: Uma paixão secreta que perdurou por quase setenta anos. Em 1939, ano da ocupação da Polônia pelos nazistas, Alma Mendel, de oito anos, é enviada pelos pais para viver em segurança com os tios em São Francisco. Lá, ela conhece Ichimei Fukuda, filho do jardineiro japonês da família. Despercebido por todos ao redor, um caso de amor começa a florescer. Depois do ataque a Pearl Harbor, no entanto, os dois são cruelmente separados. Décadas depois, presentes e cartas misteriosos são descobertos trazendo à tona uma paixão secreta que perdurou por quase setenta anos. Varrendo através do tempo e abrangendo diferentes gerações e continentes, O amante japonês explora questões de identidade, abandono, redenção, e o impacto incognoscível do destino em nossas vidas.

Já vou começar dizendo que esse é um livro muito bom, mas eu não consegui gostar. A prosa de Allende me lembra bastante a de Zafón, com personagens bem construídas e com foco em seus sentimentos e tragetória, o livro é poético, bem estruturado, bem escrito, mas não me cativou, na verdade, durante toda a leitura o que mais senti foi tristeza e a sensação de algo pesando no meu peito. Terminei a história angustiada. É aquele tipo de livro que faz você pensar na sua finitude e nas limitações que eventualmente poderá nos acometer. É uma leitura angustiante, especialmente as passagens da guerra em que nos deparamos — de novo — com a crueldade humana e começamos a nos perguntar "por quê?" Qual razão disso?

A história segue Irina Basili, uma cuidadora que começa a trabalhar numa casa de repouso. Vinda da Moldávia, ela tem um passado misterioso, mas ganha o coração de todos os velhinhos no abrigo e, eventualmente, chama a atenção de Alma Belasco, a senhora mais altiva e enigmática de toda casa. Essa senhora a contrata como sua assistente pessoal oferecendo o dobro do salário que ela ganha na instituição. Após alguma relutância, Irina acaba aceitando, 

Enquanto trabalha para Alma, Irina conhece Seth o neto da mulher que se torna seu amigo, mas acaba notando que o rapaz está interessado nela, algo que a jovem mulher não consegue retribuir apesar de sentir alguma atração por ele. Juntos, os dois começam a investigar o passado de Alma intrigados com a estranha e constante correspondência e presentes que ela recebe com frequência. 

Alma Mendel advinha de uma família judia que vivia na Varsóvia, quando os ares sinistros do nazismo começavam a se espalhar pela europa, os pais dela a enviaram para os EUA para que ela vivesse com os tios. O irmão de Alma, Samuel, se alistou no exército para tristeza e preocupação da menina. Como era muito pequena, ela não entendia o que estava acontecendo totalmente, de modo que a prisão dos pais no gueto de Varsóvia e sua posterior realocação para o campo de concentração passava como um pesadelo distante protegido pelos tios. 

Na mansão Sea Cliff, Alma conhece Ichimei Fukuda, o filho caçula do jardineiro do seu tio. É paixão imediata entre eles, a menina fica encantada pelo introspecto e inteligente rapaz, mas o ataque japonês a Pearl Harbor coloca essa relação a perder ao separá-los. Ichimei é levado para um campo de concentração americano com as outras famílias japonesas do país, a comunicação com Alma se dá por cartas que frequentemente sofrem censura pelo exército, ao ponto do garoto parar de escrever e começar a lhe enviar desenhos para contar sobre o dia a dia da família no deserto. 

Nesse ponto, conhecemos os irmãos de Ichimei, como sua família é duramente afetada e desfragmentada pelo exílio ao ponto de seu pai não resistir e se entregar completamente à tristeza. Enquanto isso, Alma continua sua vida a espera do amado, sem nunca esquecê-lo, presa em uma espécie de amor obsessivo.  Quando finalmente se encontram, após o fim da guerra, não são mais os mesmos, mas continuam tão apaixonados quanto antes e se entregam de corpo e alma a esse sentimento proibido. Primeiro porque Alma é judia e, dessa forma, presa a algumas tradições que também incluem o casamento. Segundo porque, mesmo com a "libertação" dos japoneses, a mistura racial ainda era vista como algo inapropriado.

Quando se descobre grávida, Alma recorre a única pessoa que poderia lhe ajudar, seu primo Nathaniel. Amigos muito próximos desde criança, eles se conhecem como a palma de suas mãos e são muito unidos. Alma lhe conta a verdade e diz que apesar de amar Ichimei, não suportaria a vida pobre de limitações que ele poderia lhe oferecer e não queria começar uma família dessa maneira. Inicialmente, eles recorrem ao aborto, mas devido às condições Nathaniel desiste do procedimento e resolve o problema se casando com Alma.

Por serem muito próximos, não é muito difícil para a família acreditar no envolvimento dos dois, assim, Alma termina tudo com Ichimei e se casa por conveniência com o primo. Quando descobre, Ichimei se sente traído, decide nunca mais ver Alma novamente e assim suas vidas seguem rumos opostos que, mais tarde tornarão a se entrelaçar. 

Paralelo a isso somos introduzidos na vida de Irina e na de outros personagens que compõem o cenário da casa de repouso onde Alma se interna voluntariamente e, igualmente o desfecho da própria em uma trama cheia de reviravoltas e segredos. 

Como disse no começo, a sensação é angustiante e todo o livro, para mim, teve uma certa carga meio pesada, densa, como estar preso em um nevoeiro. Mesmo o final tendo sido parcialmente feliz dependendo do ângulo em que se olhe, eu não consegui terminar com o sentimento de calma que se dá quando lemos um livro muito bom ou muito bonito. Foi mais como luto, a sensação de ter perdido uma pessoa, uma angústia desoladora de alguém que recebeu um diagnóstico terminal. É um livro bonito que para mim soou extremamente triste e quase pessimista eu diria. Mas acho que o principal é que ele soa muito realista.

Alma se descreve como covarde, volúvel e egoísta, é exatamente assim que ela é. Esse foi o papel que ela adotou o livro quase todo e só veio conseguir se desprender um pouco disso no final, quando já era tarde demais. Se eu fiquei triste por alguém foi por Ichimei e Nathaniel, ambos de algum modo vítimas do egoísmo dela, especialmente o primeiro. Ela fez os dois serem infelizes por não ter coragem de amá-lo de verdade (e fico até desconfiada se amava mesmo, ao meu ver era só obsessão).

Todavia, é uma leitura que eu indico. Reitero que lembra a prosa magnífica de Zafón, mesmo nos tons mais sombrios e nas construções tristes de seus desfechos. Vale a pena ser conhecido.

sexta-feira, 11 de março de 2022

[Drama] Switch On

 

Título original: เกมรักสลับมิติ

Também conhecido como: Switch on

Roteirista: Dew Thanapol Chaowanich, Poy Orachat Brahmasreni, Chim Sedthawut Inboon, Anyapetch Nop-uthaipan, Aiyarin Nop-uthaipan, Piyapat Nanthanoraseth

Diretor: Yuan Danop Taninsirapapra

Gêneros: Thriller, Romance, Fantasia

País: Tailândia

Episódios: 24

Ano: 2021-2022

Sinopse: O pai da cirurgiã Nisa criou o famoso jogo "Mundo Melhor". Ela não tem apreço pelo jogo, mas se vê obrigada a entrar nele para procurar seu pai quando ele desaparece misteriosamente. Lá, ela continua cruzando caminho com Akin, um misterioso herói que tem sua própria missão. Ele logo percebe que ela não é daquele mundo e a segue para o mundo real, onde ele descobre a verdade sobre sua existência.

Entre reviravoltas, eles descobrem que forças dentro e fora do jogo estão tentando dominar o "Mundo Melhor". Eles devem se ajudar para salvar os mundos de ambos.

Onde Achar: Wei Fansub

E vamos de mais uma adaptação tailandesa que tinha tudo para dar certo, mas se perdeu no meio do caminho porque, provalmente, os 6 roteiristas tiveram conflitos no meio do processo de adaptação e, fala sério gente, 6 roteiristas?! Lógico que não ia dar certo! Para os desinformados ou que não assistiram a versão original, essa é uma adaptação do drama coreano W- Two Worlds. Aproveita quem aí for entendido da Tailândia, me esclarece uma coisa: eles não têm quadrinhos não?

A história segue a médica estagiária Nisa, seus pais se divorciaram quando ela era criança por causa da obsessão do pai dela pelo trabalho, ele é um criador de jogos online que alcançou prestígio quando formou uma parceria comercial com o empresário Michael para lançar seu maior sucesso "Better World" um jogo de MMORPG voltado a fazer boas ações para conquistar status dentro do jogo. O protagonista do game era Chris Thaweekitkiat, cujo filho A-Kin está treinando para ser um competidor de tiro ao alvo.

Contudo, quando Thanathe, o pai de Nisa, desaparece bem no lançamento da segunda versão do jogo após Chris ser misteriosamente assassinado por um jogador não identificado, tudo na empresa vira um caos. Além de não ter deixado a segunda versão para ser colocada na plataforma, ele não pode ser localizado em nenhum lugar. Preocupada, Nisa vai até a casa dele e acaba encontrando uma passagem secreta em um dos armários do pai que leva a um quarto com um computador de última geração e uma cadeira onde tem um óculos de realidade virutal.

Ao colocar os óculos, Nisa se torna uma jogadora de Better World bem no momento que A-Kin foi esfaqueado e está sofrendo de um pneumotórax hipertenso. Ela hesita muito, mas consegue salvá-lo e, a partir desse momento se torna uma peça importante dentro do jogo. Ela não sabe que A-Kin não é um personagem manipulado da empresa, mas está consciente e atrás de respostas sobre o que está acontecendo dentro do seu mundo, para ele, Nisa tem as respostas para suas perguntas e, por isso, precisa encontrá-la. Emily, sua secretária e melhor amiga, acredita que Nisa está por trás do ataque ao patrão mesmo A-Kin afirmando que confia nela.

Inicialmente, Nisa acredita que é seu pai que está tentando matar A-Kin, então ela volta ao jogo com a ajuda do seu primo programador Muwan para tentar encontrar o pai, só que acaba ficando presa pela vontade de A-Kin já que o jogo gira em torno dele. Uma série de confusões e mistérios começa a crescer quando a vida de A-Kin corre perigo e Nisa passa a ser também um alvo das tenebrosas conspirações.

Olha, confessar para vocês que o drama começou muito bem, com bom potencial e a ideia foi muito boa, o plot do jogo, apesar de ter algumas limitações, funcionaria muito bem se os roteiristas tivessem sabido levar a história. O problema de Switch On foi um desenvolvimento de enredo maluco que muitas vezes não conversava com a ideia central, personagens mal construídos que, por vezes, tomavam decisões idiotas e absurdas que não faziam o menor sentido, além de serem mal desenvolvidos ao ponto de não conseguir gerar empatia por eles. 

Nisa é um insulto para sua versão coreana, enquanto Yeon Joo era uma personagem forte, que enfrentava as dificuldades e tentava buscar soluções nos momentos de maior adversidade, Nisa fica só chorando e esperando que alguém a salve e, nos poucos momentos que toma alguma iniciativa (e são de fato poucos) ou acaba cometendo alguma estupidez ou era algo que não servia para aumentar a simpatia por ela tampouco para algo significativo no enredo. Ela era, basicamente, uma princesinha em perigo.

Enquanto Kang Chul era um mestre do tiro ao alvo, inteligentíssimo e um talentoso engenheiro da computação, A-Kin passa aquela pose de CEO filantropo cuja única ocupação é assinar documentos e praticar Muay Thai com bandidos inexistentes nas horas vagas. Ele parece ter sido criado para cumprir o estereótipo de herói romântico de livro de banca (provavelmente pra combinar com a princesinha), mas na verdade acabou saindo uma versão bem sem sal do personagem original. Ele não tem brilho, não é aquele tipo de personagem que a gente vibra e torce junto e é nítido o esforço do ator para fazer o personagem se destacar nesse roteiro cheio de linguiça.

Leo e Emily, embora tenham um pouco mais de protagonismo aqui ao contrário das suas versões coreanas, conseguem ser tão apagados quanto, embora Leo seja simpático ao ponto de chamar mais nossa atenção que o próprio protagonista. O pai de Nisa, Thanathe, ao contrário da sua versão coreana com um plano de fundo bem desenvolvido que o tornava um personagem complexo, aqui é só um velho tolo, sem atitude alguma, não tem qualquer presença e não faz nada útil para ajudar a filha, mas fica só se escondendo atrás da sua covardia e dando desculpas para não fazer as coisas. Caramba, ele é o criador do jogo, não dá para entrar na cabeça de ninguém que ele não possa fazer nada no produto que ele mesmo criou, não tem sentido

Mickael aqui assme como o antagonista. Transformaram o plot do político corrupto em uma piada, o antagonismo do pai dela foi tirado, as motivações dos antagonistas eram estapafúrdias, o desenvolvimento dos conflitos chegava a ser risível e foi preciso muita paciência minha e da minha irmã para finalizar esse negócio. Os últimos capítulos se resolveram com um verdadeiro deus ex-machina que, embora tenha soado com sentido, não fez sentido nenhum. Muita coisa não foi explicada e eles ainda lançaram ambiguidade na última cena para piorar ainda mais algo que já não estava muito bom.

Resumindo, era uma ideia boa que foi muito mal aproveitada e, tanto não faz jus ao material original como o desmerece. Colocaram várias personagens transitórias que pouco contribuíram para o enredo, encheram um monte de linguiça para esticar por 24 episódios o que tornou a trama cansativa. Mesmo que, em alguns pontos, eles tenham melhorado  a história, como o final do pai dela, no geral não ficou bacana quando a  gente avalia o material como um todo. Não recomendo.


Se você não concorda com a minha opinião, tudo bem, é um direito seu, mas caso deseje transparecer sua discordância faça isso com educação, por favor, ninguém é obrigado a pensar igual você e, sobretudo, a ouvir desaforos ou xingamentos porque não gostou de algo que você amou.  Agradeço.

sábado, 5 de março de 2022

[Livro] O Despertar

 

Título Original: The Awakening

Autor: L. J. Smith

Laçamento: 1991

Sinopse: Em Fell Church, uma cidade pacata em West Virginia, a garota mais popular da escola Robert E. Lee apaixona-se por um vampiro com quatrocentos anos. Com a ajuda das amigas, Meredith e Bonnie, Elena fará tudo para seduzir Stefan. E Stefan fará tudo para proteger Elena… dele mesmo. O adolescente de olhos verdes, rosto clássico escondem um passado sombrio e uma sede que não consegue controlar. Com ele, arrasta a memória de um amor perdido e um irmão que apenas deseja vingança. Em Florença, no Renascimento, Stefan e Damon Salvatore lutaram pelo amor da mesma mulher. Séculos mais tarde, voltarão a fazê-lo. Diários do Vampiro — O Despertar é a introdução a um triângulo amoroso arrepiante: a história de dois irmãos vampiros que se odeiam e de uma garota que se vê dividida entre os dois.

Os dois primeiros volumes dessa série estão aqui em casa há eras e eu nunca tinha me interessado para ler. Na verdade, quem era muito fã da série de televisão era a minha irmã, lembro que na nossa época de RPG narrativo ela não perdia um episódio, no aniversário dela, dei de presente o box com a continuação dessa primeira saga. Vi apenas dois episódios da série em meados de 2013 acho, mas não me despertou o menor interesse então acabei deixando de lado. Contudo, na meta de leitura desse ano queria colocar livros da minha estante que ainda não tinha lido e peguei os dois primeiros volumes dessa saga a título de curiosidade mesmo. Como não vi muito da série, não dá para fazer um comparativo, então vou ficar apenas no que li mesmo.

A história segue Elena Gilbert, uma adolescente do último ano no ensino médio que é a rainha da escola e está voltando das férias em Paris. Ela mora com a tia Judith e a irmã mais nova, a pequena Margaret, desde que seus pais morreram. Ela tem como melhores amigas  Bonnie e Meredith, havia Caroline, mas esta — dominada por um surto de inveja — se afasta dela, na tentativa de tomar seu lugar como abelha rainha. Quando Stefan Salvatore chega à escola causando um alvoroço entre as meninas, Elena logo decide que ele será dela, não apenas pelo fato de ele ser indiscutivelmente bonito, mas por ele ser o único com força de vontade o bastante para ignorar a existência dela, algo que até então nenhum garoto havia conseguido.

Simultâneo a chegada de Stefan são os acontecimentos sombrios que acontecem na cidade. Primeiro, Elena é perseguida por um tenebroso corvo que parece observá-la em todos os lugarers. Depois, ela e as amigas são perseguidas pelo cemitério por uma presença sombria até, por fim, Vicky Bennet ser atacada por alguma coisa e um professor da escola acabar morto no evento de Halloween. Entrelaçado a isso, acompanhamos Stefan perdendo o controle de si mesmo sem saber se havia sido ele o causador de todos aqueles eventos agourentos enquanto vamos desvendando pedaços do seu passado e descobrindo sobre Katherine, o primeiro amor de sua vida e causadora da discórdia entre e Damon, seu inescrupuloso irmão mais velho.

Já tinha lido outro livro da L.J Smith que foi Vampiro Secreto, inclusive, gosto muito desse livro. Além de Diários, esse ano vou ler outro livro dela que é O Círculo Secreto, série infelizmente cancelada, mas que eu amo demais e, anos atrás, maratonei madrugada a dentro. Contudo, minha curiosidade com Diários de Um Vampiro — que inclusive eu não entendi por que os diários são do vampiro quando não vi Stefan pegar numa caneta esse livro todo — não resultou numa experência tão bacana. A história é boa, mas esse primeiro contato eu achei muito... como dizer? Raso. Na falta de uma palavra melhor.

Elena é uma protagonista fútil, egocêntrica, manipuladora e superficial. Ela começa o livro obcecada com Stefan porque ele é bonito demais, mas não morre de amor por ela à primeira vista. Fica o livro inteiro perseguindo o garoto e mal ele dá uma leve abertura ela já solta um "eu te amo". Bem que dizem que não dá para confiar em adolescente. Eu fiquei tipo,"como assim, tia?! E esse amor surgiu de onde?' Todo mundo super critica a reação da Bela quando descobre que o Edward é um vampiro, mas, fala sério, depois de gritar uns dois "nãos" incrédulos, a Elena simplesmente sentou na cama dele e pediu que ele contasse a história da sua vida como se eles estivessem esperando o chá das três. Pelo menos a Bela foi construída para ser bizarra desde o início.

Todavia, o intuito não é fazer rixa de sagas, só tomei esse pequeno exemplo mesmo.

Stefan, apesar de ser o clássico vampiro bom adepto ao automartírio (que, cof cof, também bebe sangue de animais) não impressiona muito e não é aquele personagem que faz a gente cair de amores logo de cara. Mas é bem melhor que a Elena, pelo menos. O mérito está no passado dele que achei bem interessante, eram as partes do livro que eu mais conseguia ler sem fazer careta embora a Katherine fosse igualmente odiosa, ela era hipócrita, falsa e egoísta. Damon aparece só no final do livro para dar aquele primeiro impacto de vilão destestável em busca de uma vingança sem sentido que, provavelmente, vai ser redimido pela "mocinha" mais na frente.

Se tiveram personagens que me despertaram o mínimo de simpatia foram Bonnie, Meredith e Matt. Gostava das cenas que eles apareciam e a interação deles parecia deixar a Elena (um pouco só) menos chata. De início, não me impressionou muito. Mas vou tentar ler o segundo volume para ver se sobe um pouco a empatia. É um livro fácil de ler, a escrita da tia L.J é muito gostosinha, rapidinho a gente voa pelos capítulos e nem nota. Tipo de livro que eu indicaria para aquelas minhas primas cabeças de vento que nunca pegaram em um objeto com páginas na vida além dos livros didáticos que são obrigadas a ler.

sexta-feira, 4 de março de 2022

[Livro] Um conto às avessas da Bela e a Fera

Original: As Old as Time: A Twisted Tale

Autor:  Liz Braswell 

páginas: ‎394 páginas

Ano: 2017

Sinopse: Bela é inteligente, engenhosa, inquieta e mais uma porção de coisas. Ela anseia escapar de seu modesto e provinciano vilarejo. Quer explorar o mundo, apesar de seu pai relutar em deixar sua casinha para o caso de a mãe de Bela retornar — mãe da qual ela mal se lembra. Um dia, os desejos da garota por novas aventuras acabam por se realizar — mas não da maneira que ela imaginava. Agora ela é cativa de uma terrível fera, dentro de um castelo enfeitiçado. Quando Bela toca a rosa encantada da Fera, intrigantes imagens inundam a mente da jovem — imagens da mãe que ela acreditava que nunca mais veria. Ainda mais estranho que isso, ela descobre que sua mãe é ninguém menos que a bela Feiticeira que amaldiçoou a Fera, seu castelo e todos os seus habitantes. Chocados e confusos, Bela e Fera devem se unir para desvendar um assombroso mistério sobre suas famílias.

Muito antes do castelo da fera ser amaldiçoado, de Bela trocar sua vida pela do pai e da última pétala de rosa cair sob a redoma na ala oeste, havia um jovem Maurice que chegava com suas ideias mirabolantes de invenções que revolucionariam e mudariam a vida das pessoas. Cheio de vontade de mudanças em uma Europa que respirava os primeiros sopros da revolução industrial, ele ainda era visto como louco e sonhador, não sendo muito aceito pelos lugares onde passava. Isso até ouvir falar de um pequeno reino onde as pessoas podiam viver livremente e ser quem quisessem sem os olhares tortos das outras pessoas. Um lugar, onde ser diferente era apenas um detalhe e não uma maldição. 

Nessa aldeia, ele se deparou com uma bela jovem discutindo bravamente com o que parecia ser um guarda, Maurice não fazia ideia que estava presenciando o nascimento de uma guerra civil envolvendo Les Charmantes, pessoas que possuíam algum tipo de magia, e os humanos comuns não dotados de nenhuma habilidade mágica. Ele se apaixona por ela perdidamente. Nessa época, ele dividia uma pequena casa com Alaric, um jovem robusto que trabalhava em serviços braçais, além de cuidar de animais. Havia também o recém-chegado Fréderic, um jovem que quase se formou em medicina, mas foi exilado pelos pais ao demonstrar a habilidade de ver o futuro. Tal como o homem que discutia com a bela jovem, Fréderic não gostava de Les Charmantes, ainda sob o pensamento obscuro de que eram pessoas "tocadas pelo demônio".

E assim, nascia o sangrento preconceito contra o diferente.

Lentamente, como um veneno na corrente sanguínea, a antiga aldeia pacífica e acolhedora onde as pessoas diferentes podiam conviver pacificamente, se tornou um mundo perigoso para Les Charmantes que desapareciam sem deixar rastro, eram surrados até a morte sem que os guardas do palácio nada fizessem e se tornaram párias na pequena sociedade. Rosalind, a jovem por quem Maurice se apaixonou, estava no meio dessa ameaça, era uma das mais poderosas feiticeiras tal como uma das mais audaciosas defensoras de sua classe. Ela queria respeito para Les Charmantes, liberdade e o mesmo direito de ir e vir dos demais, uma segurança que lhe foi negada pelos monarcas regentes — e pais do príncipe fera!

Quando uma doença mortal se alastra pela Europa, os reis mandam fechar as fronteiras um pouco tarde demais e ela acaba atingindo o vilarejo, claro que Les Charmantes são considerados os causadores da doença que vinha matado as pessoas sem distinção de classe social. Seguindo um conselho de Fréderic, Rosalind e Maurice, agora com a recém-nascida Bela, saem da cidade para um vilarejo distante e seguro onde poderão criar a filha sem preocupações e onde os charmantes que conseguiram escapar dos ataques no reino se refugiaram. Os pais do jovem príncipe pedem ajuda a Rosalind para salvar seu filho e os demais membros da corte, mas ela se recusa. Contudo, pensando na própria filha, acaba lançando secretamente um feitiço para proteger o pequeno príncipe e as demais crianças do palácio.

Anos depois, Bela, agora crescida, é uma jovem muito bonita e inteligente, viciada em livros e solitária, vista por todos da aldeia como esquisita, tal como seu pai. Ela é alvo das investidas e Gaston, o jovem mais querido e bonito do vilarejo, mas um completo imbecil intelectual e, por isso, nem um pouco atraente para ela. Quando seu pai, após sair para uma feira, desaparece, ela vai atrás dele sem hesitação e acaba chegando a um misterioso castelo e seus habitantes inusitados. Ela se depara com a fera e é bem um copia e cola do filme da Disney nesse começo, a coisa vem ficar diferente quando ela invade a ala oeste e toca a rosa, tendo assim uma visão do que aconteceu ao príncipe e ao castelo, esse gesto desencadeia de vez a maldição e eles ficam presos dentro do castelo.

Partindo disso, Bela vai precisar se unir à fera para desvendar os acontecimentos do passado e refazer os passos da sua mãe e das demais pessoas desaparecidas para assim conseguir encontrar uma forma de desfazer a maldição.

Quando li a sinopse do livro achei bacana a ideia, era algo diferente e inusitado, mas acabou não sendo nada do que eu esperava. Apesar de ser um livro bom — e sou leitora a tempo suficiente para saber quando um livro é bom — eu não gostei. É uma premissa muito boa, mas o desenrolar não funcionou comigo, se teve uma coisa que eu achei realmente legal nesse livro foi a maneira como ele fotografa o preconceito e suas consequências. Les Charmantes podem ser negros, homossexuais, ciganos, judeus, mulçumanos ou qualquer outro grupo que já sofreu discriminação e a maneira como a autora destrincha isso, saindo dos alicerces da construção do preconceito até seu auge, é realmente muito bem feita e leva a gente a refletir.

Porém, as personagens não colaboram (visão minha, tá?), os pais do príncipe são tirânicos, mas a Rosalind, aquém de todo o background, não se tornou muito diferente no fim das contas e isso meio que fez boa parte da história, sei lá, perder um pouco do sentido, como se o fato de ela ter amaldiçoado o Adam não agregasse nada à história. Além disso, a reconstrução da Bela "iluminada" pelo movimento iluminista dos séculos XVII e XVIII tornou-a um tanto antipática em vários momentos da leitura. A relação com a fera não foi diferente, ele foi reconstruído de maneira verdadeiramente bestial e a aproximação deles soou tão forçada e artificial que não dava sequer para torcer ou perceber que eles tinham real potencial de se desenvolver como casal. Inclusive, ao contrário da animação, aqui ele não faz o menor esforço para conquistar a Bela, sério.

O que eu senti foi que a autora quis dar um toque mais realista para a coisa toda, mas a mistura no fim não deu muito certo e, se por um lado ela acerta fechando vários buracos que a animação deixou passar, por outro ela erra na recriação das personagens que, em boa parte, se tornaram versões mais chatas e nada adoráveis de si mesmas. Inclusive, algumas partes desse livro eram tão pesadas e sombrias que sequer parecia ser uma releitura de um conto de fadas, mas lembrava muito a gênese sinistra dessas histórias com violência, tortura e morte. Sem contar que aquele final foi bem insoso pra dizer o mínimo. Acabei vendo que esse livro é o primeiro de uma série, mas não me sinto nem um pouco inclinada a ler os outros, talvez (e é um talvez bem grande) eu leia o da Bela Adormecida porque gosto de conhecer todas as vertentes possíveis desse conto que é meu favorito, mas estou na dúvida porque a impressão desse não foi muito bacana.

Mas fica aí a recomendação para quem procura algo diferente.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

[Donghua] Tong Ling Fei (Psychic Princess)

Título original: 通灵妃

Também conhecido como: Psychic Princess

Data de lançamento: 30 de novembro de 2018 (China)

País de origem: China

Idioma: chinês

Episódios: 16

Sinopse: Desde pequena, Qian Yunxi, a filha mais velha do Grande Conselheiro, é dotada de poderes sobrenaturais. Por conta disso, ela é considerada um mau agouro, e foi confinada à Montanha do Espírito da Nuvem. Aos 16 anos, ela descobre que foi escolhida no lugar de sua irmã mais nova para se casar com o Príncipe Ye — um homem frio, excêntrico e cruel.


Quando a filha de um ministro é prometida em casamento ao sombrio Príncipe Ye por ordem do imperador, o ministro Qian bola um plano arriscado envolvendo sua filha mais velha que, por sua habilidade de ver seres sobrenaturais, em uma idade muito jovem foi exilada nas montanhas como uma vergonha para a família. Assim, Qian Yun Xi é trazida de volta contra sua vontade e forçada a se casar no lugar da irmã assumindo sua identidade.

Wang Ye é um homem frio, excelente estrategista e guarda um rancor profundo pelo ministro Qian por ele ter causado a morte de um general honrado e conspirar contra o imperador. Assim, ele vê esse casamento como uma afronta e está disposto a usar a filha do ministro para derrubá-lo. Ele é apaixonado pela filha do general falecido, mas por alguma razão não se casa com ela.

Yun Xi chega ao palácio cheia de incertezas, mas logo na noite de núpcias é agraciada com o desprezo do marido e fica exultante por saber que não vai precisar se preocupar com ele e viver de forma pacífica até encontrar uma maneira de fugir. Quando ela foi confinada nas montanhas, suas duas criadas de confiança permaneceram na casa do pai dela, tudo que a atual princesa quer é encontrar suas criadas, por quem tem um enorme afeto, e ir embora de volta para as montanhas ficar com seu mestre.

Porém, seus planos são frustrados pela sua incrível personalidade que acaba atraindo a atenção do príncipe Ye, despertando a ira de suas outras concubinas. Além disso, uma série de acontecimentos vai aproximar ainda mais os dois num perfeito relacionamento que inicia com ódio profundo e gradualmente se transforma em amizade. Ye acaba descobrindo que Yun Xi nada tem a ver com as conspirações do perverso pai e agora precisará de tudo para acusá-lo, mas protegê-la da fúria do imperador.

Até os praticamente 8 primeiros episódios eu estava achando o anime muito chatinho. Ele é bem servido de comédia e a personalidade da Yun Xi torna-a uma personagem ao mesmo tempo simpática e irritante. Gostava da atitude dela na maior parte do tempo, falava o que pensava e não temia as consequências, era sempre muito otimista e procurava tirar o melhor das piores situações, além de ser bondosa, mas tinha momentos que ela era muito infantil.

Wang Ye me irritava na maior parte do tempo, só vim simpatizar realmente com ele lá pelo episódio 12! E nesse ponto da história já sabia que não ia ter final, tinha muitas coisas para resolver e só faltavam quaro episódios, aí descobri que o anime foi cancelado! (por que você faz isso, China? Aff) Realmente não consigo entender, bem na hora que a história começou a engatar de verdade, eles cancelaram. Uma pena.

No meu ponto de vista, apesar do começo quase todo focado em política, vale a pena dar uma conferida, é um donghua interessante, com uma personagem muito legal e tirando uma coisa ou outra é até levinho.


domingo, 27 de fevereiro de 2022

[Drama] The Devil Punisher - Podia ter sido melhor!

 

Original: 天巡者

Ano: 2020

Diretor: Chen Rong Hui, Chang Chin Jung

Gêneros: Aventura, Romance, Drama, Fantasia, Sobrenatural

País: Taiwan

Episódios: 20

Classificação: +13

Sinopse: A série acompanha Zhong Kui, uma divindade reencarnada que trabalha como padeiro durante o dia e luta contra demônios à noite. Em meio a isso, ele precisa ainda resgatar sua amada Meng Po, que sofre de amnésia e não lembra de nada da sua vida anterior — nem mesmo do romance milenar que vive com Zhong Kui.

Onde achar: Phoenix Fansub, Netflix

Vou confessar que esse mês não tive muita sorte com o que escolhi assistir. The Devil Punisher é aquele tipo de drama que contava com uma premissa ótima, mas que não soube ser aproveitada e deslanchou em um amontoado de clichês que não conversavam entre si e culminaram numa história chata que se perdeu completamente.

A história acompanha Chun Kui, o exorcista do submundo. É dever dele guiar as almas perdidas para a próxima vida e punir aquelas que se rebelam e continuam causando mal no mundo humano, ele é também o chefe do departamento da reencarnação onde Hsin Yu, uma das atendentes que produz o chá o esquecimento oferecido às almas, trabalha. Ela demonstra um carinho especial por Chun Kui, mas nunca consegue se declarar, ele também gosta dela, mas nunca se aproxima além do devido, contudo, por mais formulários de demissão que ela envie ele nega sempre a dispensa dela para a próxima vida ou para outro departamento.

Um dia, um fantasma furioso capturado por eles causa estrago no submundo e acaba destruindo a ponte da reencarnação fugindo para o mundo humano e levando Hsin Yu com ele. Chun Kui tenta, de todas as formas, impedir, mas não consegue e, assim, ele vai atrás dela desafiando as ordens de seu superior e com a missão de capturar novamente o causador de toda a confusão.

Na terra, ele vai contar com a ajuda da rainha Chin, comandante do submundo, de lorde Chuan Huang e de Ouyang Kuai, um jovem mortal inteligente e carismático que está apaixonado por Li En Shi, a melhor amiga de Hsin Yu — conhecida no submundo como lady Meng —, que é encontrada por Chun Kui, mas não tem qualquer tipo de memória do seu passado como deusa. Contudo, uma conspiração envolvendo um velho inimigo do exorcista do submundo pode colocar o destino de todo o mundo em risco.

No começo, o drama era divertido, tinha uma história interessante e personagens meio apagados, mas que até despertavam alguma simpatia, o que fazia a gente querer saber mais sobre eles, além do fato de despertar a curiosidade pelo passado do Chun Kui e da lady Meng, quem seria o vilão por trás do esquema todo e esse foi o primeiro problema do desenvolvimento desse roteiro, gente, fica claro como água quem é o vilão dessa joça logo de cara!

Eles não fizeram o menor esforço para esconder quem era e quando fizeram uma tentativa ridicula de desviar a atenção falharam com sucesso. Quando o tal "chefão" foi revelado surpreendeu um total incrível de 0 pessoas. Além do fato de a motivação dele ser bem ruim. As cenas que mostraram do passado dos protagonistas foram rápidas, aguadas e não conseguiram despertar qualquer tipo de empatia pelo dilema que eles enfrentavam. 

Além disso, toda aquela lenga-lenga da maioria dos personagens de contar as coisas pela metade, ou mesmo a En Shi que ficou insuportável logo nos primeiros episódios do drama e a morte injusta de um dos melhores personagens desse negócio me fizeram detestar os últimos capítulos. A meu ver, os conflitos foram mal distribuídos, foram muitos capítulos de enrolação, com Hsin Yu tomando atitudes idiotas que eu conseguia prever no capítulo anterior.

Embora tenha usado vários elementos da mitologia chinesa, o drama peca muito em desenvolver os pontos, as personagens se transformam em arquétipos previsíveis que findam por gerar um romance água com açúcar, um vilão que não convence e a sensação de que podia ter sido feito melhor, mas não foi. Não recomendaria.


Essa postagem expressa a minha opinião a respeito do drama, não quer dizer de forma alguma que você precisa concordar comigo, mas se for comentar discordando seja educado, por favor, as opiniões variam e ninguém é obrigado a pensar como você, então respeite a opinião dos outros ao discordar, obrigada.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

[Livro] Encontro com a morte

Título Original: Appointment with Death

Autor: Agatha Christie

Ano: 1945

Sinopse: Em uma viagem pelo exótico Oriente Médio, parte de um diálogo chega por acaso a Hercule Poirot: “Você entende que ela tem de ser assassinada, não entende?”. Consciente da gravidade da situação, Poirot esperará o momento certo para investigar o caso. Enquanto isso, uma família de turistas americanos chama a atenção por onde passa em Jerusalém. A matriarca parece exercer um estranho domínio sobre os filhos, criando um clima de tensão que beira o sadismo. Uma jovem e curiosa médica se verá atraída por esse núcleo familiar — sem imaginar as consequências fatais. Quando a situação parece ter fugido ao controle, Poirot compreende o verdadeiro significado do diálogo, conduzindo a trama para um magistral desfecho.

Em uma noite quente na terra santa, Poirot escuta uma declaração um tanto inusitada "Você entende que ela tem de ser assassinada, não é?", imaginando poder ter várias explicações para aquela expressão e não exatamente o desejo do cometimento do crime, ele vai dormir tranquilo.

Enquanto isso, uma família americana chama a atenção de uma recém-formada psicóloga que acaba de se encontrar com um renomado psiquiatra de quem é muito fã. É a família Boyton que acaba também por se tornar objeto de interesse do médico, a matriarca da família é uma mulher inflexível e cruel que parece manter todos os filhos sob o cárcere do seu sadismo. Muito se especula sobre a sombria mulher especialmente porque Sarah, a psicóloga, está interessada em um dos filhos.

Quando chegam em Petra onde fariam um passeio turístico de alguns dias, a velha mulher acaba sendo encontrada morta por um dos empregados locais e então, a convite de um coronel — amigo de Race,  outro que Poirot conheceu em Morte no Nilo — o famoso detetive se infiltra na penumbra do caso e começa a investigar quem poderia ter cometido o crime, segredos do passado começam a ser revelados culminando em um desfecho impressionante.

Tia Agatha nunca decepciona. Os casos de Poirot sem dúvida são meus favoritos, não somente pela engenhosidade dele, mas pela complexidade das tramas e a forma como ele as desvenda. Aqui não é diferente, somos levados a crer em quem claramente é o assassino, o que nos faz, claro, tirar todo o foco dele por ser óbvio demais e a titia Agatha nunca é óbvia, mas ela foi além. O verdadeiro assassino aqui é revelado de modo ainda mais sutil do que ela costuma empregar em suas tramas, o que torna a reviravolta ainda mais um tapão na nossa cara. Aliado a isso, há um embate ético muito interessante na história a respeito da morte e da perversidade.

Com personagens extremamente bem construídos, somos arrebatados para o mundo dentro das páginas torcendo por alguns e desconfiando de outros, enquanto nossa moral é testada a respeito do assassinato da velha escabrosa. Com certeza ainda mais magistral que Morte no Nilo.


Série:  Agatha Christie's Poirot

Temporada: 11

Episódio: 04

Direção: Ashley Pearce

Ano: 2008

Gente, pelo amor de Deus o que foi esse filme?

Desde que começou eu já comecei a ficar igual o meme do John Travolta, perdida. Reviveram personagens mortos, tiraram outros sem qualquer explicação, colocaram aquela freira charlatã que não existe no livro! Uma babá nada a ver, umas cenas de violência contra crianças que foi muito Queeeee?

Sério, a pior adaptação que essa série fez desde os Quatro Grandes. Em geral, os filmes são bem fiéis ao livro, uma licensa poética aqui, outra ali, mas seguem a história. Só que essa extrapolou os limites, o que mais dá raiva é que não tinha nada no livro que fosse realmente difícil adaptar, dava para colocar boa parte como estava lá, mas eles decidiram ser inventivos usando uma ponta solta na história e criando um negócio nada a ver. 

Quem não leu o livro e vai só por esse filme perde completamente a vontade de ler e acaba deixando passar uma história incrível que, sem nenhuma novidade, foi mal adaptada por algum roteirista que parece não saber usar a história original como referência! Fiquei irritada e recomedo que pulem esse episódio da série, não vale a pena.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

[Livro] A Redoma de Vidro

Título Original: The Bell Jar

Autor: Sylvia Plath

Ano: 1963

Sinopse: Lançado semanas antes da morte de Sylvia, o livro é repleto de referências autobiográficas, e a narrativa é inspirada nos acontecimentos do verão de 1952, quando Silvia Plath tentou o suicídio e foi internada em uma clínica psiquiátrica.

Esther Greenwood é uma jovem que sai do subúrbio de Boston para trabalhar em uma prestigiosa revista de moda em Nova York. Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante com um histórico exemplar que sofreu uma grave depressão. Muitas questões de Esther retratam as preocupações de uma geração pré-revolução sexual, em que as mulheres ainda precisavam escolher se priorizavam a profissão ou a família.

Esse ano eu tentei incorporar alguns livros mais diferentes para a minha meta de leitura, peguei uns que eu tinha no kindle e no tablet há muito tempo e não tinha lido e outros de indicações que peguei quando acompanhava a Beatriz Paludetto como é o caso da Redoma de Vidro.

O livro vai acompanhar a jovem de dezenove anos Esther Greenwood, ela é uma universitária que, ao ganhar um concurso de textos, vai para Nova Iorque ficar um tempo trabalhando em uma revista e ganhando experiência. Só que, conforme sua experiência vai avançando, mais Esther percebe que não sabe o que quer e, lentamente, vai perdendo a vontade de fazer qualquer coisa, seu interesse pela vida e por si mesma vai gradualmente diminuindo ao ponto de ela se sentir vazia.

De volta em casa, Esther continua piorando gradualmente ao ponto de não conseguir mais dormir, não ter prazer em ler ou mesmo escrever, as coisas que antes ela mais gostava de fazer. Pedindo ajuda à psicóloga da família, ela é encaminhada a um psiquiatra muito incompetente que a submete a uma sessão de terapia de choque e ela acaba traumatizada afirmando para a mãe que não vai voltar para as próximas consultas. Após isso, sem saber o que fazer com a sua vida, ela começa a avaliar a melhor maneira de se matar.

Após uma série de eventos, ela acaba optando por overdose de remédios, mas a tentativa falha e ela é salva. Passando por dois hospitais, Esther acaba em uma clínica psiquiátrica particular custeada pela mesma mulher que forneceu sua bolsa de estudos na faculdade. Lá, ela é submetida novamente a terapia de choque e seu progresso é lento. Nesse entremeio, ela se vê confrontada por questões sociais do seu presente e passado, revendo o caminho do seu futuro e as escolhas que precisa fazer enquanto lida com perdas.

Esse é um livro muito bom, entendi a proposta, a autora soube fazer a gente sentir a depressão da personagem através de sua escrita simples, mas bem arrastada. Só que eu realmente não consegui gostar. Não sei se por ter lido boa parte dele enquanto estava doente ou se pelo conteúdo mesmo que não me agradou, é uma leitura difícil, bastante crua e por vezes eu ficava espantada com a apatia da Esther para as questões mais tenebrosas, em determinado ponto da história ela é quase violentada e age como se não fosse nada. Eu fiquei tipo: "filha, pelo amor de Deus!", mas assim, embora eu tenha ansiedade, consegui entender boa parte dos pensamentos dela em determinadas situações. Claro, muito parcialmente.

Tal como os livros de Clarice Lispector, se engana quem acha que é um livrinho curto de uma sentada só, não é. A leitura é densa, pesada, por vezes difícil e indigesta. Mas mesmo não tendo gostado muito, reconheço não apenas que é um livro bem feito, mas, sobretudo, um livro necessário. Não é de hoje que doenças mentais são levadas de modo superficial e mesmo que o assunto esteja relativamente mais em voga nos últimos anos não recebe a atenção devida e muita gente ainda acha "frescura" ou que a pessoa quer aparecer. Pior, que ela não tem vontade de melhorar ou que é preguiçosa.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

[Drama] Mysterious Love

Título original: 他在逆光中告白

Também conhecido como: Ban Yin (2021)

Diretor: Ming Yan

Roteirista: Zhong Zu Yao

Gêneros: Thriller, Romance, Drama

País: China

Episódios: 16

Ano: 2021

Sinopse: A peculiar e adorável atriz de teatro Ruan Nianchu conhece Li Teng, um cara frio e arrogante que possui QI e QE altos. Li Teng salva Ruan Nianchu de uma situação perigosa. Os dois desenvolvem sentimentos um pelo outro, mas se separam devido a trajetórias de vida diferentes. Cinco anos depois, os dois se reencontram e seus sentimentos um pelo outro reacendem. No entanto, os dois enfrentam um novo perigo enquanto trabalham juntos para desvendar os esquemas do antagonista.

Onde encontrar: Wei Fansub

O teatro em que Ruan Nian Chu trabalha como atriz está com problemas, por isso, é de extrema importância que ela consiga a participação de Li Xiao Yan, uma famosa atriz, em sua próxima peça. De posse do contrato assinado pela artista, ela vai até uma festa onde pode encontrá-la para garantir que a celebridade cumpra com suas funções, mas é surpreendida ao encontrar Lee, um homem misterioso que conheceu cinco anos atrás e que lhe salvou a vida. Ele, contudo, afirma se chamar Li Teng não se lembrar dela e diz que ela o está confundindo com outra pessoa, mesmo ela sabendo que não está.

Após ser humilhada de todas as formas por Li Xiao Yan — que parece estar muito interessada em Lee — Ruan Nian Chu vai embora sem respostas. Contudo, é surpreendida não apenas com a confirmação da participação da arrogante celebridade como com o reencontro com o frio Li Teng que demonstra estar muito interessado nela apesar de sua postura distante na festa e ainda deixa bem claro para Li Xiao Yan que ela não é a eleita dele mesmo que possa ter o homem que quiser. 

Ruan Nian Chu segue desconfiando que Li Teng é o seu Lee de cinco anos atrás e por um tempo ele continua fingindo que não é quem ela pensa até que finalmente admite que se lembra dela, mas é muito vago (para não dizer evasivo) sobre os acontecimentos do passado. Logo que Wasa, uma assassina da mesma corporação, reaparece disposta a ficar ao lado de Li Teng e tirar Ruan Nian Chu do caminho. Foi da mesma forma cinco anos atrás quando ela ficou obcecada por ele e fez de tudo para que a corporação matasse a garota, sem sucesso, já que Lee a protegeu.

O relacionamento dos dois é abalado quando Ruan Nian Chu descobre que Li Teng só está ao lado dela para conseguir uma moeda antiga que é, na verdade, um pen-drive com informações importantes para destruir a corporação na qual Lee, ela descobre, estava infiltrado. Contudo, apesar de todas as armações de Wasa e as brigas ocasionais, o casal se mantem unido. 

Mas quando a corporação começa a mirar em Ruan Nian Chu para conseguir a moeda e, mais ainda, se vingar de Li Teng, ele vai ter que se mostrar mais esperto que seu inimigo e contar com a ajuda de todos os seus amigos se quiser que sua amada saia viva da história.

Esse drama não leva o título atoa, durante a história nós vamos recebendo lapsos do passado, mas nenhuma explicação real do que aconteceu cinco anos atrás. Em alguns diálogos há pistas, mas muito vagas. Também não fica bem claro sobre a tal corporação e o que eles faziam. Em resumo, o drama fica cheio de perguntas sem respostas. Achei os desenvolvimentos dos personagens até okay, mas ficou faltando algo no carisma deles, especialmente os principais. Achei o casal secundário mais shipável que o principal. 

Comparado com outros dramas chineses que já vi, achei esse drama bem rasinho. Tem uma história boa, que abria um leque amplo de possibilidades, mas infelizmente não foi bem explorado e acabou meio... né? Não sei, aquela revelação do vilão no final surpreendeu um total de 0 pessoas. Mas enfim, acho que dá para ser um bom passatempo no fim de semana. Não é incrível, mas também não é ruim.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

[Livro] Mar de Rosas

 

Original: Bed of Roses

Autor: Nora Roberts

Série: Quarteto de Noivas #2

Gênero: Romance

Ano: 2009

Páginas: 288

Sinopse: Em Mar de rosas, segundo livro da série Quarteto de Noivas, o amor floresce junto com os primeiros botões da primavera. Este romance vai fazer você ter vontade de dançar num jardim, sob a luz do luar. Emma Grant é a decoradora da Votos, empresa de organização de casamentos que fundou com suas três melhores amigas de infância – Mac, Parker e Laurel. Ela passa os dias cercada de flores, imersa em seu aroma, criando e montando arranjos e buquês. Criada em uma família tradicional e muito unida, Emma cresceu ouvindo a história de amor dos pais. Não é de espantar que tenha se tornado uma romântica inveterada, cultivando um sonho desde menina: dançar no jardim, sob a luz do luar, com seu verdadeiro amor. Os pais de Jack se separaram quando ele era garoto, e isso lhe causou um trauma muito profundo. Ele se tornou um homem bonito e popular entre as mulheres, porém incapaz de assumir um compromisso. Quando Emma e suas três amigas fundaram a Votos, foi Jack, o melhor amigo do irmão de Parker, quem cuidou de toda a reforma para transformar a propriedade no melhor espaço para casamentos do estado. Os seis são praticamente uma família. E justamente por isso Emma e Jack nunca revelaram a atração que sentiam um pelo outro. Mas há coisas que não podem ficar escondidas para sempre. Mar de rosas é uma história ardente, sexy e divertida sobre as vantagens e os desafios que surgem quando uma grande amizade vira paixão. Dona de uma beleza estonteante e de um jeito doce e sempre agradável, Emma atrai muitos homens e tem uma incrível habilidade com eles – principalmente na hora de dispensá-los. Mesmo com tantos pretendentes, ela ainda não encontrou o príncipe encantado com quem sonha desde menina. Talvez porque ainda não tenha procurado no lugar certo: bem debaixo do seu nariz. Jack Cooke é um arquiteto atraente, bem-sucedido e melhor amigo do irmão de Parker, uma das sócias e amigas de infância de Emma. Muito próximo das fundadoras da Votos, ele é praticamente da família. Quando percebe que seus sentimentos por Emma vão além de uma simples amizade, Jack fica muito confuso. Agora, para essa história dar certo, eles terão que encontrar o ponto de equilíbrio entre o solteiro avesso a compromissos e a mocinha romântica que sonha em se casar e ser feliz para sempre.


Apesar de adorar a personalidade de Parker desde o primeiro livro, minha personagem favorita é a Emma. Por isso, quando finalmente consegui colocar as mãos no livro dela não resisti em colocar na lista de leitura desse ano. Contudo, não contava que eu (e minha família toda) fosse ficar doente bem na semana que eu estava lendo, quase pensei que não ia terminar no prazo, mas deu certo.

Das quatro amigas, Emma é a mais doce e romântica. Sua aura vibrante e sempre otimista transforma-a na luz e na cola que mantém o quarteto sempre para cima. Carismática e doce, é impossível resistir a ela e por isso é sempre a que mais atrai a atenção masculina onde quer que passe. Ela leva jeito com homens, tanto com os que quer se relacionar quanto com os que não quer e é excelente para julgar que tipo de mulher combinaria melhor com um de seus parceiros antigos que, em geral, continuam seus amigos depois. Por isso, para ela, Jack Cooke, seu amigo há mais de dez anos, sempre foi uma peça intocável de vitrine.

Mesmo tendo mantido uma paixão secreta por ele há anos, Emma nunca arriscou se aproximar dele de outra forma que não fosse como amiga, especialmente porque Jack é o melhor amigo de Del e é amado por todas elas. Além do fato de ser um solteiro convicto que não quer saber de casamento de jeito nenhum.  ELe tem várias amantes, algumas namoradas, mas nunca terá uma esposa e Emma era consciente disso, tão consciente quanto o fato de que desejava um amor forte e duradouro com o de seus pais e um futuro feliz com uma casa, um marido que a amasse e filhos.

Contudo, em um casamento complicado da Votos no qual Jack era um dos convidados, ele a acaba beijando de maneira inesperada enquanto ela fazia uma pausa. Emma não entendeu aquilo, mas a paixão reprimida de anos veio à tona com toda a violência possível, especialmente porque beijar Jack era tudo que ela sempre imaginou e um pouco mais. Porém, ele estava na categoria de "amigo" além de ser um possível ex de Mac o que o tornava ainda mais inacessível a ela segundo a regra de nunca namorar ex das amigas. A atração entre eles, todavia, é algo que não parece poder ser contido e, por isso, numa conversa clara, eles acabam decidindo ficar juntos por um tempo.

Só que, ao contrário do que esperava, tanto Emma quanto Jack começam a entrar em uma relação mais intensa, ela com seus sonhos românticos que tem consciência não poder serem retribuídos, ele com a floração de um sentimento que não consegue dominar e foge completamente da sua racionalidade lógica fria. Emma sabe que, se a relação acabar mal, todos os seus amigos serão implicados nisso, Jack faz parte do seu seio familiar há dez anos, mas arriscar dizer para ele o que sente é algo que ela simplesmente não consegue fazer uma vez que no momento que as palavras saírem pela sua boca, a relação que ambos têm naquele momento também vai acabar.

Mas quanto mais os dois se aproximam e se descobrem, mais os limites impostos por Jack em seu mundo se tornam claros para Emma e, ainda mais, para ele mesmo. A amizade de ambos conseguirá sobreviver ao impacto de uma paixão avassaladora e sem volta?

Eu sabia que esse ia ser o livro que mais ia gostar do quarteto antes mesmo de ler! Não apenas por Emma ser aquele tipo de personagem que você apenas não consegue não adorar, mas pelo próprio histórico da personagem que fica subtendido nos outros livros, foi muito incrível conhecer a história dos pais dela e todos os antecedentes que a tornaram a romântica incurável e sempre otimista que ela é. Se shippei ela com Jack? Muito. Especialmente depois de ver que eles se apaixonaram muito tempo antes, ao contrário do que rolou nos outros dois livros da série que li, nesse não teve nenhum momento em que fiquei pistola com algum personagem, os limites que eles impunham sobre suas realidades ficava claro e nós entendíamos as razões para isso, de modo que não era possível ficar do lado de um ou de outro, a gente apenas entendia o contexto.

Foi um livro todo equilibradinho, romântico na medida certa, com cenas cômicas muito bem encaixadas que me fizeram morrer de rir, amava quando elas interagiam juntas! Mesmo a atitude de Del em determinado momento que pareceu passar um pouco do limite me pareceu justa olhando a situação como um todo. E tem as cenas mais eróticas que também foram bem encaixadas e na medida certa, sem apelar demais e sem mostrar de menos. Se tornou meu queridinho do quarteto sem esforço apesar de ter desejado que o final fosse maior um pouquinho, ainda assim valeu a pena e recomendo muito. Foi uma escolha acertada depois de uma leitura tão pesada quanto As Boas Mulheres da China.

Só me falta ler o livro da Parker, mas confesso que estou um pouco receosa com ele porque, pelos três livros anteriores, o par dela será o mecânico e eu realmente não shippo os dois. Sei lá, acho que não combinam em nada e essa disparidade muito grande entre eles pode atrapalhar minha leitura. Então, vou deixar pra depois quando estiver um pouco mais aberta. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

[Dorama] Watashitachi wa douka shiteiru (Cursed Love)

Título original: 私たちはどうかしている

Diretor: Inomata Ryuichi, Akashi Hiroto, Komuro Naoko

Roteirista: Eto Rin

Gêneros: Comida, Thriller, Psicológico, Romance

Ano: 2020

Episódios: 08

País: Japão

Sinopse: Kogetsu An, uma bem-estabelecida loja de confeitaria em estilo japonês, onde a mãe de Nao trabalhou e viveu, foi o mesmo lugar em que ela conheceu Tsubaki. No entanto, depois de um certo incidente, a mãe de Nao foi acusada de assassinato e presa. Por conta disso, Nao, foi banida da loja. 15 anos depois, Tsubaki revisita Nao, o que faz os dois competirem para ver quem tem melhores habilidades. O odioso Tsubaki, que uma vez fez da vida de Nao uma louca bagunça, aproximou-se dela mais tarde para fazê-la se casar com ele, já que notou que ela é sua amiga de infância. Como Nao reagirá a esse suposto pedido de casamento?!

(Fonte: NewZect.com)

Onde Assistir: NewZect, Subarashii

Já tinha um bom tempo que eu não ficava tão presa em um jdrama!

A mãe de Nao era uma talentosa confeiteira de doces tradicionais japoneses, quando a menina era pequena, ela conseguiu emprego na Kogetsu An, uma famosa e renomada loja de doces tradicionais. Por ter a saúde frágil, Nao não podia sair muito de casa, mas ainda assim ela conheceu Tsubaki, o filho do dono da confeitaria, que alegrava seus dias e lhe mostrou a felicidade de criar doce e ela, a quem o garotinho chamava de Sakura, se mostrou muito boa nisso.

Contudo, um dia tudo mudou. Por causa das palavras de Tsubaki, a mãe de Nao foi presa acusada de assassinato e a menina foi levada para um orfanato. Posteriormente, sua mãe faleceu sem nunca conseguir provar sua inocência, tarefa que a garota pegou para si. Assim, Nao mudou seu sobrenome e conseguiu um emprego em outra loja de doces, onde aperfeiçoou ainda mais suas habilidades, na expectativa de descobrir o que realmente aconteceu no fatídico dia que sua vida desmoronou.

Mas o destino acaba colocando-a diante de Tsubaki mais uma vez quando ambos disputam a responsabilidade de fazer os doces de um importante casamento. Por conveniência da família do noivo, a Kogetsu An acaba vencendo embora tenha ficado claro que o doce de Nao fora o mais apreciado, ela porém é surpreendida quando, na sua ida para casa, recebe a inusitada proposta de casamento de Tsubaki. Sabendo que essa é uma chance de entrar novamente naquele mundo obscuro e desvendar o enigma do passado que vai limpar o nome da sua mãe, Nao aceita o pedido.

Logicamente, as coisas não são tão fáceis. Primeiro, porque Tsubaki já estava noivo de uma jovem de família importante. Segundo, porque a vida que lhe espera dentro da renomada confeitaria está longe de ser fácil, tanto pela mãe de seu futuro marido, que não a aceita, quanto pelo avô dele que o desconsidera como neto. Os mistérios que rondam a família de Tsubaki e podem estar diretamente ligados ao seu próprio passado, vão fazer com que Nao mergulhe em um mar revolto e perigoso que pode acabar lhe destruindo, especialmente quando seu coração começa a se inclinar para o homem que ela devia odiar.

Quem me trouxe para esse drama foi o Ryusei Yokohama, eu amo esse ator, ele é maravilhoso e super talentoso, a sinopse também me ganhou, por ser um drama diferente do que costumo ver, acabei por colocá-lo na lista desse ano. Fiquei vidrada nele em todos os episódios, uma mistura muito boa de suspense, mistério e romance, ótimas atuações e uma história muito bem montada. Apesar de lidar com o clichê Enemy to Lovers, o drama não deixa a peteca cair e nos oferece um relacionamento bonito, gradual e ameaçado não somente pelas forças externas, mas pelos próprios personagens.

Ryusei nos brinda com um Tsubaki que flerta com o sombrio na pose de anti-herói, mas é igualmente magnífico quando demonstra seu lado sensível. Minami Hamabe nos oferece uma Nao que é, ao mesmo tempo, frágil e resiliente, atormentada pelo amor e pelo passado. Minha única ressalva com a produção foi que apressaram muito o final, as coisas ficaram meio corridas e tudo se resolveu praticamente no último minuto. Era um drama que merecia uns dez episódios e um final mais completinho. Ainda assim, vale muito a pena ver! Recomendo demais!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

[Livro] As Boas Mulheres da China

Título Original: 中国的好女人们

Autor: Xinran [薛欣然]

Gênero: Biografia, reportagem

Ano: 2002

Páginas: 315

Sinopse: Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais, a fim de compreender a condição feminina na China moderna. Seu programa de rádio, Palavras na brisa noturna, discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar, como vida íntima, violência familiar, opressão e homossexualismo.De forma cautelosa e paciente, Xinran colheu inúmeros relatos de mulheres em que predomina a memória da humilhação e do abandono: estupros, casamentos forçados, desilusões amorosas, miséria e preconceito.São histórias como as de Hongxue, que descobriu o afeto ao ser acariciada não por mãos humanas, mas pelas patas de uma mosca; de Hua'er, violentada em nome da "reeducação" promovida pela Revolução Cultural; da catadora de lixo que impôs a si mesma um ostracismo voluntário para não envergonhar o filho, um político bem-sucedido; ou ainda a de uma menina que perdeu a razão em conseqüência de uma humilhação intensa.Quando Xinran começou suas entrevistas, o peso de tradições antigas e as décadas de totalitarismo político e repressão sexual tornavam muito difícil o acesso à intimidade da mulher chinesa. Desde 1949, a mídia chinesa funcionava como porta-voz do regime comunista. Rádio, televisão e jornais estatais eram a única fonte de informação, e a comunicação com pessoas no exterior era rara.Em 1983, o presidente Deng Xiao Ping iniciou um lento processo de abertura da China. Alguns jornalistas começaram a promover mudanças sutis na maneira como apresentavam as notícias. O programa apresentado por Xinran era um dos poucos espaços em que as pessoas podiam desabafar e falar de seus problemas pessoais. Nos relatos do livro, a autora possibilita a vozes antes silenciadas revelar provações, medos e uma capacidade de resistência que as permitiu se reerguer e sonhar em meio ao sofrimento extremo. Em condições extremas de vida, como a dos campos de reeducação da Revolução Cultural, afloram sentimentos de maternidade, compaixão e amor. O olhar objetivo de Xinran dá ao tema um tratamento firme e delicado, trazendo à tona as esperanças e os desejos escondidos nessas difíceis vidas secretas.

"Todo mundo diz que as mulheres são como a água. Penso que é porque a água é a fonte da vida e se adapta ao ambiente. Assim como as mulheres, a água dá de si mesma em todo lugar aonde vai para nutrir a vida"

Essa vai ser uma das resenhas mais difíceis que já escrevi.

Quando cheguei ali pelos vinte anos, perdi a visão idealista que tinha de países do exterior. A gente começa a olhar mais criticamente o mundo à nossa volta, assim, no momento que passei a me interessar por produções japonesas e pela Ásia em si, já tinha essa concepção de que nada é lindo e glamoroso, tudo tem um lado negro e sangrento e nenhum daqueles países era diferente. Mas uma coisa é você ser consciente disso, outra bem diferente é você ver essa realidade a partir da ótica de uma "vítima" daquele sistema, nós temos uma visão muito superficial da história deles, no que me toca, até ler esse livro, apesar de não ter uma visão muito positiva sobre o regime político da China, meu conhecimento sobre o assunto era muito insípido, mas após ler o relato dessas mulheres tudo que consigo sentir é repulsa.

A jornalista Xue Xinran, nascida em Pequim, viveu os difíceis dias da revolução cultural que precedeu a consolidação do partido comunista chinês, ela própria é uma vítima dos cruéis conflitos que se espalharam pelo país nos dias negros e tormentosos que vinham sob as falsas promessas de igualdade social e liberdade. Tal como acontece em praticamente todas as ditaduras, muitos jovens se deixaram ludibriar pelas ideias revolucionárias que prometiam mudar suas vidas para sempre, deixá-los em um mundo utópico bom para todos quando, na verdade, era somente uma máscara para justificar a crueldade arraigada nos homens, os ideais retrógrados da sociedade patriarcal e submeter o povo ao duro controle de um governo totalitário e manipulador.

Foi com seu programa de rádio que Xinran teve contato com as histórias de diversas mulheres, acobertadas pelo anonimato, elas se sentiam seguras para abrir a caixa de Pandora de seus passados trágicos de perda, repressão e violência, cada vez que ouvia suas histórias, mais a jornalista desejava conhecer a realidade das mulheres de seu país. Os relatos do livro cobrem os primórdios da instauração do partido comunista até sua consolidação, os negros dias de guerra civil que separaram famílias, devastaram vidas e mantém ainda hoje a sociedade sob a ilusão da liberdade.

"De modo geral foram as crianças, sobretudo as meninas, que arcaram com as consequências do desejo sexual frustrado. A menina que cresceu durante a Revolução Cultural viu-se cercada de ignorância, loucura e perversão. (...) Quando o corpo amadurecia, a menina se tornava vítima de ataques indecentes ou estupro — meninas como Hongxue, cuja única experiência de prazer sensual veio de uma mosca; Hua’er, violentada pela Revolução; a mulher na secretária eletrônica, dada em casamento pelo Partido; ou Shilin, que jamais saberá que cresceu. Os perpetradores foram seus professores, amigos, até seus pais e irmãos, que perderam o controle dos instintos animais e agiram da maneira mais feia e egoísta de que um homem pode agir."

Enquanto avançava pelos capítulos do livro e ia mergulhando no passado sombrio dessas mulheres, a sensação que eu tinha era que havia levado uma surra. Era uma espécie diferente de dor física. Empatia por sentir na pele suas violações e desespero, o medo dos dias incertos em uma sociedade que não as protegia, não lhes dava acesso a conhecimento, as mantinha refém de uma ideia falsa de liberdade, de um senso arcaico de dever e de uma ideia suja de "amor". O mais chocante é ver a resiliência delas, a luta até o final para sobreviver ou, como Hongxue, que escolheu deteriorar a si mesma a voltar para as garras do pai abusivo. Quão baixo o homem pode chegar? Até agora não encontrei a resposta e acho que nunca vou descobri-la.

Várias vezes precisei pausar a leitura para desanuviar os pensamentos e aliviar um pouco a carga pesada no meu coração, pensar que essa não é uma realidade apenas da China, mas que acontece ainda hoje em diversos lugares do mundo. Nós, mulheres, ainda somos reféns do medo, da desconfiança, não vivemos com total liberdade apesar da sociedade dar a ilusão que sim. E o mais revoltante é que, no fim, a culpa é sempre nossa. Lembro de quando estava lendo o relato das mães do terremoto, o mundo delas desabando, as pessoas que deveriam ajudá-las cometeram a barbárie de destruir a vida de uma garota inocente já vitimada pela catástrofe, aquilo mexeu comigo de uma maneira avassaladora. A história terrível de Hua'er, enquadrada por ser estrangeira, tinha apenas onze anos quando os homens do "partido" tiraram todos os seus sonhos e a esperança de uma vida normal.

Lendo esses relatos, sobretudo aqueles diretamente ligados à revolução cultural, notava coisas que já tinha visto em livros como A Revolução dos Bichos e Fahrenheit 541, a maneira como eles manipulam a mente com ideologias falsas, com a promessa de um mundo utópico que nunca se concretiza e, primordialmente, tiram o acesso à informação, à criticidade. Banem livros. Um povo ignorante é um povo fácil de manipular. Ainda hoje, o governo Chinês controla o que seus cidadãos leem, mangás como Death Note são proibidos, não preciso dizer mais. Vivem em uma redoma de "moral e bons costumes" como um mote para enclausurar o direito de escolher, de pensar e a liberdade de agir das pessoas.

"minha impressão era de que a China continuava dominada pela Revolução Cultural: a política regendo cada aspecto da vida cotidiana, e certos grupos sendo submetidos a censura e julgamento para que outros sentissem que estavam realizando alguma coisa."

 “Nós dizemos: ‘em casa, acredite nos seus deuses e faça o que quiser; fora de casa, acredite no Partido e tome cuidado com o que fizer’."

Quantos dos ideais absurdos pregados ou distorcidos nesse livro ainda são uma realidade na sociedade chinesa "moderna"? Um país onde uma garota saía da aula na universidade e é violentada no estacionamento, mas a polícia simplesmente não faz nada. Quantas vozes não são caladas em nome da imagem dessa "política igualitária"? Fico me perguntando que tipo de mentalidade as chinesas de hoje em dia têm, o que acham do país em que vivem e da sociedade que as cerca. Não sou habilitada para dizer o que mudou e o que permanece igual para elas. E ler esse livro me fez pensar em tantas outras mulheres vivendo sob a sombra do medo e da repressão cujos relatos nunca vieram à tona, na China, no Brasil, na Índia, no Afeganistão, no mundo...

Terminei me sentindo vazia, triste. Mas com um olhar novo sob a luta diária das mulheres nessa sociedade que ainda precisa tanto aprender a empatia. Sem contar que foi realmente bom conhecer essa China crua, sem maquiagem. Foi uma leitura pesada, difícil, indigesta, mas necessária. Ás vezes nós precisamos de livros que nos estapeiem, nos façam olhar o mundo que nos cerca e nos alerte para as ideologias falsas que culminam em tragédia e manipulação. A meu ver, é uma leitura obrigatória, todos deveriam pensar pelo menos uma vez no que é ser mulher, nas dificuldades que enfrentam todos os dias, na essência dessas mulheres. Empatia é a palavra chave desse livro. É impossível ler e não sentir a dor rasgando sua alma, o desespero delas, o medo em cada palavra.

Foi lendo esse livro que percebi meu parco amadurecimento, dez anos atrás eu não teria conseguido levar essa leitura até o final. Desejo ter oportunidade de, futuramente, ler outros livros da autora. 

"Sem livros não compreenderíamos o mundo; sem livros não poderíamos nos desenvolver; sem livros, a natureza não pode servir a humanidade."