quinta-feira, 13 de março de 2014

Assombrada

Todos nós estamos aqui por alguma razão, pelo menos é o que nos ensinam, o que fazem com que acreditemos quando passamos a ver as coisas de maneira pessimista a tal modo que perdemos o sentido de tudo. Pois bem, devo dizer que me considero demasiado inútil para estar aqui e não consigo ver qual é a minha utilidade enquanto sobrevivente da selva social na qual sou obrigada a viver. As coisas aqui nessa "cidade" onde eu moro estão ficando perturbadoramente perigosas, e quando falo isso não estou alardeando ou mesmo comparando-a a grandes cidades como São Paulo, mas dentro da mesmice e calma com a qual cresci, posso dizer que esta cidade está ficando insustentavelmente violenta. O que dizer de pessoas sendo mortas à luz do dia ou mesmo assaltadas perto de suas próprias casas, e eu falo isso quando moro perto de usuários de drogas! Gente perigosa que já matou na esquina da minha casa. Meus pais vivem dizendo que é um tipo de pessoa que só faz mal a eles mesmos e aos "deles", mas eu penso diferente, eles são capazes de fazer mal a qualquer pessoa.
Nós voltamos para casa sempre em um horário nada bom, às dez horas da noite, quando a maioria das pessoas está dormindo e as ruas desertas, normalmente eu não me preocupo com nada disso, afinal eu sou protegida por Deus e por David, mas nem por isso posso sair por ai dando carta para "pessoas perdidas". E a polícia estava bem no caminho hoje então significa que alguma coisa sinistra aconteceu, porque a polícia daqui só aparece quando o estrago já foi feito. Não há em quem se confiar hoje em dia, só podemos colocar nossa fé em Deus e rezar para que ele nos ampare e nos proteja. E isso me remete ao R. um dos assaltos aconteceu bem perto da casa dele e eu fico sempre um pouco aflita porque ele vai andando pra casa sozinho da faculdade, e a rua da casa dele é tão ou mais esquisita que a minha! Não posso deixar de ficar preocupada por mais que não devesse. O fato de eu querer distância não significa que eu deseje mal a ele, nunca faria isso, desejo que ele seja o mais feliz possível e desejo isso de coração.
Hoje eu topei com ele mais vezes do que gostaria... É sempre a mesma coisa: o frio na espinha, as mãos trêmulas e geladas, a pele arrepiada, o estômago revirando, o coração disparado, o enjoo forte, o peso tão enorme no peito que parece que estou morrendo. E tem a dor... Ah, como dói quando ele aparece. É algo que eu não desejo ao meu pior inimigo. Eu sinceramente não quero mais sentir isso, não quero mais me sentir assim, quero poder esquecê-lo, vê-lo e não sentir mais nada e me orgulhar disso. Pergunto-me porque é tão difícil, e nessas horas é maior meu desejo de ir embora, de mudar de lugar e nunca mais olhar para trás, talvez em outro lugar, com outras pessoas, tudo fosse diferente. Talvez eu conseguisse esquecer. No momento eu estou apenas escrevendo com a esperança de que, ao colocar o ponto final, os sentimentos sejam aprisionados dentro do livro e nunca mais me machuquem outra vez.
O sentimento que me define no momento? Medo. Estou com medo de tudo... Até de mim mesma.

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