Autor: Tahereh Mafi
Ano: 2017
Páginas: 395
Gênero: fantasia
Sinopse: Há apenas três coisas importantes para Alice Alexis Queensmeadow, de 12 anos: sua mãe, que não sentiria sua falta; magia e cor, os quais parem escapar dela; e seu pai, que sempre a amou. No dia em que seu pai desapareceu de Ferenwood, ele levava consigo apenas uma régua. Já se passaram quase três anos e Alice está determinada a encontrá-lo. Ela o ama tanto quanto ama aventura, e está prestes a embarcar em um para encontrar o outro.
No entanto, trazer seu pai para casa não será tão fácil. Alice precisa viajar através da mística e perigosa Terra de Furthermore; onde para baixo pode ser para cima, papel está vivo e esquerda pode ser direita. Sua única companhia é um garoto chamado Oliver, cuja habilidade mágica é mentir e enganar – e com um mentiroso em uma terra onde nada é o que parece ser, requisitará de Alice toda sua concentração para encontrar seu pai e conseguir voltar para casa sã e salva. Em sua jornada, Alice precisa se encontrar- e se agarrar à magia do amor diante da perda.
"Estar viva, percebeu, era muito cansativo."
Minha irmã comprou esse livro e o sequente na Avon. Confesso que, no início, não estava dando muito nele não, pela capa a gente até acha que é livro para criança, de certa forma até serviria, se você cortasse uma ou outra cena, mas a verdade é que, se a gente for olhar direito, é muito mais profundo que isso. Quando comecei a ler não consegui entender nada por uns bons dois capítulos até começar a me inteirar da história e, mesmo quando comecei, não achei que me chamaria atenção como chamou.
Alice nasceu em Ferenwood, um lugar onde as cores são a fonte de magia das pessoas que sobrevivem dela e da sua relação com a terra, levou um tempo até que eu compreendesse de fato isso, principalmente porque a "relação mágica" desse povo é quase (se não for) uma analogia ao cultivo agrícola dos nossos antepassados, que tiravam sua subsistência da terra e da natureza sem agredí-la. A coisa é que, apesar da magia, esse povo vive de forma muito "normal", além de serem um vilarejo bem capitalista e Alice faz parte da classe social que precisa lutar para sobreviver.
Há três anos o pai da menina saiu de casa sem dizer nada a ninguém e nunca mais voltou. Mesmo que no fundo não quisesse acreditar, Alice sabia que ele estava morto. Sentia falta de Pai como um peixe da água ao se vitimizar no anzol de um pescador. Prestes a completar doze anos, a menina se prepara para a Entrega, primeiro porque quer receber um desafio que lhe guie a uma aventura longe de Ferenwood onde todo mundo lhe olha diferente e onde ela não tem amigos. O problema é que, mesmo tendo nascido em Ferenwood, onde tudo (e todos) é colorido, Alice não tinha cor.
Tudo na sua vida vira de ponta cabeça alguns dias antes da Entrega quando ela é abordada por Oliver Newbanks, o garoto que a fez ser expulsa da escola e o principal responsável pelo tremor na autoestima de Alice. Quando estudavam juntos, Oliver era o tipo de pessoa "popular", mas Alice não gostava dele, pois não o via como nada além de um mentiroso. E Alice não mentia. Por isso, Oliver a odiava, ele espalhara para todo o vilarejo que ela era a menina mais feia de toda Ferenwood e isso machucara Alice mais que tudo. Por isso, anos depois, vê-lo próximo a ela tentando se aproximar era inadmissível. Mas ela admitia que ele tinha coragem de pedir a ajuda dela para cumprir seu desafio.
Porém, mesmo magoada com tudo que ele lhe fez, ela logo muda de ideia quando falha na Entrega de maneira miserável, e então descobre que o desafio de Oliver é trazer seu pai de volta para casa e, sobretudo, quando ele lhe diz que sabe onde Pai está. Alice não pensa muito, não tem ninguém para sentir sua falta, Mãe certamente não irá e os irmãos dela mal a conhecem. Assim, Alice embarca com Oliver para Futhermore, contudo, sabe que não pode confiar nele, pois Oliver é um mentiroso e convence-se que não está ali para ajudá-lo, mas para benefício próprio que é encontrar Pai.
Mas sua aventura pela terra selvagem de Futhermore vai se mostrar muito mais perigosa do que parece quando Alice descobre que seres mágicos como ela podem ser o prato principal para as criaturas daquele lugar e que eles estão vigiando de perto cada um dos seus passos. Pior que isso, decide dar um voto de confiança a Oliver apenas para descobrir a verdadeira razão pela qual ele a levou naquela viagem. Alice assim vai aprender a amar profundamente a si mesma, a aceitar o outro como ele é e, sobretudo, vai aprender que sua verdadeira cor pode ser mais brilhante que qualquer outra que ela almeje ter.
Posso dizer que, das muitas impressões que tirei de Além da Magia, ele pareceu um livro sobre preconceito principalmente. Alice era discriminada por não ter cor e isso pode ser uma boa analogia ao racismo. Mas, além do preconceito geral, havia principalmente o modo como a própria menina se via, tanto influenciada pelas palavras cruéis de Oliver quanto pelo modo como as pessoas a olhavam. Outra coisa que me chamou a atenção foi Futhermore e Ferenwood, ambos os mundos eram mais ou menos como alusões a nossa sociedade em dimensões diferentes, o primeiro, pela sua selvageria e manipulações parecia mais, inclusive, em algumas passagens eu achei muito Brasil:
"Você está querendo dizer que os Futhermore não gosta que s visitantes tomem decisões conscientes?' "É claro que não gostam - Oliver confirmou, puxando a régua da mão da garota. - É muito mais fácil devorar pessoas burras."
Pra mim o livro passou várias mensagens bacanas e momentos reflexivos que me fez olhar ao meu redor sob uma nova ótica, para ser o primeiro livro da autora que eu pego, foi bom. Apesar de que o modo como ele foi narrado (um narrador meio personagens meio observador) fez com que eu demorasse mais a me acostumar. Como ele acabou bem fechadinho, fiquei curiosa para saber como vai ser o segundo. Enfim, recomendo muito pra quem procura uma fantasia densa de significados. Valeu a pena. Aí vai mais dois quotes que marquei:
Oliver não entendia que um coração partido que não recebesse cuidados por muito tempo deixava de bater.
Alice sabia que ser diferente sempre seria difícil; sabia que não existia magia capaz de abrir a mente fechada das pessoas ou acabar com as injustiças da vida. Mas também começava a entender que a vida nunca era vivida em termos absolutos. As pessoas a amariam e a desprezariam; elas mostrariam tanto gentileza quanto preconceito. A verdade era que Alice sempre seria diferente - mas se diferente era extraordinário. e ser extraordinário era uma grandíssima aventura. Como o mundo a via, isso não não tinha importância. O que importava era como Alice se via.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar seja sempre respeitoso à opinião do outro. Nem todo mundo pensa como você e a diversidade existe para isso. Exponha suas ideias sem ofender a crença ou a opinião de ninguém. Comentários com insultos ou discriminação de qualquer natureza serão excluídos.