Original: Elle s'appelait Sarah / Sarah's Key
Autora: Tatiana de Rosnay
Gêneros: Romance, Ficção histórica
Ano: 2006
Páginas: 400
Sinopse: Julia Jarmond é uma jornalista Americana que vive em Paris há 25 anos e é casada com o arrogante e infiel Bertrand Tézac, com quem ela tem uma filha de onze anos. Julia escreve para uma revista americana, e seu editor pede que ela cubra o sexagésimo aniversário da grande concentração no Vélodrome d’Hiver – um estádio no qual dezenas de milhares de judeus ficaram presos antes de serem enviados para Auschwitz. Ao se aprofundar em sua investigação, Julia constata que o apartamento para o qual ela e o marido planejam se mudar pertenceu aos Starzynski, uma família judia imigrante que fora desapossada pelo governo francês da ocupação, e em seguida comprado pelos avós de Bertrand. Ela resolve descobrir o destino dos ocupantes anteriores. É revelada então a história de Sarah, a única dos Starzynski a sobreviver. A família de Sarah foi uma das muitas brutalmente arrancadas de casa pela polícia do governo colaboracionista francês. Michel, irmão mais novo garota, se esconde em um armário, e Sarah o tranca lá dentro. Ela fica com a chave, acreditando que em poucas horas estará de volta. Julia é então impelida a retraçar a sofrida jornada de Sarah em busca de liberdade e sobrevivência, dos terríveis dias em campos de concentração aos momentos de tensão na clandestinidade, e por fim seu paradeiro após a guerra. E à medida que a trajetória da garota é revelada, mais segredos são desenterrados. Ao escrever sobre o passado da França com uma clareza implacável, Tatiana de Rosnay oferece em A Chave de Sarah um contundente retrato da França sob a ocupação nazista, revelando tabus e negações que circundam este doloroso período da História francesa.
Em 1942 o mundo da pequena Sarah muda para sempre quando a polícia chega à noite em seu apartamento para levar sua família embora. Com onze anos de idade, ela não entende o que está acontecendo, seus pais não lhe contam nada, embora ela seja esperta o bastante para saber que algo não andava certo nas últimas semanas. Seu irmão de quatro anos, Michael, se recusa a sair. Assim, ela o esconde no armário secreto em seu quarto e tranca a porta, levando a chave consigo, acreditando que logo voltará para casa e libertá-lo-á, ficando tudo bem.
Sua família é levada para o Velodróme D'hiver onde fica confinada em condições desumanas junto de várias outras famílias judias. Sarah presencia todos os tipos de crueldade e desespero enquanto tem um pai preso no desespero e uma mãe apática pela falta de esperança. O tempo todo, ela pensa no irmão preso no armário, enlouquecida com a verdade de que não poderá voltar para ajudá-lo. Pessoas que antes ela conhecia e sorriam para ela, hoje lhe viram as costas e rostos como se ela fosse uma criminosa.
Em um trem de gado, ela é levada para um campo de concentração francês e separada de seus pais. Junto com as outras crianças, algumas morrendo devido as condições de descaso e nenhuma higiene, ela vive os maiores horrores sozinha até conseguir fugir com uma das outras meninas, ajudada por um policial que a conhecia. Elas passam por dificuldades até chegar em uma fazenda, onde são acolhidas por um casal de idosos que as esconde. Mas a outra menina fica doente e é levada de volta ao campo de concentração pela polícia. Por sorte, o casal consegue salvar Sarah que só tem uma coisa em mente: voltar para Paris e resgatar seu irmão.
Em 2005, a jornalista americana radicada na França, Julia Jarmond é encarregada por seu chefe de escrever uma matéria sobre os eventos de 1942 que está próximo de comemorar 60 anos. Primeiro, ela fica chocada por não saber nada sobre a batida policial francesa, depois, torna-se obcecada em conseguir mais informações a respeito e tentar entender por que aquilo não é ensinado nas escolas, porque ela mesma nunca ouviu falar na escola (exemplificando claramente o sistema egocêntrico de ensino americano).
Passando por uma crise no casamento e com uma filha de onze anos, ela está prestes a se mudar para o antigo apartamento da avó do seu marido que foi internada em um asilo por conta da demência. A vida de Julia vira mais pelo avesso quando em suas pesquisas ela esbarra com Sarah, a menina que pode ter sobrevivido ao holocausto e, possivelmente, ter alguma ligação com a família do seu marido.
Investigando mais a respeito do assunto, ela viaja para lugares esquecidos, procura ressuscitar pessoas das quais ninguém quer lembrar enquanto reconstrói a odisseia de Sarah e seus últimos passos rumo a um destino ignorado. Sua pesquisa causa um abalo na família de seu marido e pode mudar para sempre o rumo da sua própria história.
Esse é um daqueles livros que entra na seleta lista de histórias incríveis com adaptações que eu não vou ter coragem de ver.
Dos parcos livros ambientados nesse período negro da história do mundo, esse foi um dos poucos que pode ser equiparado lado a lado com O Pianista, foi difícil de ler e isso é um eufemismo! É aquele tipo de livro cuja história fica na sua cabeça, revira seu estômago e te faz repensar sua fé na humanidade ao mesmo tempo em que a reaviva. A história intercala entre a visão de Sarah dos horríveis momentos da prisão e a trajetória de Julia com seu casamento fracassado e sua pesquisa.
Além de indigesto e cruel, o que me deu mais dificuldade em continuar a história foi a própria Julia. Sério, ela é o arquétipo de personagem que eu mais detesto acompanhar. Sabia que o marido estava traindo, sabia que seu casamento estava acabado, mas ainda insistia em continuar porque não queria aceitar o fato que estava acomodada com aquela vida, independente disso fazer mal a ela ou não.
Por vezes, conversando com minha irmã sobre a história (porque eu precisava mesmo falar com alguém ou não conseguiria terminar de ler), ela me perguntava sempre por que eu continuava lendo aquele tipo de livro. É uma resposta simples: é necessário. A gente não pode, nunca, esquecer esses eventos e todas as pessoas que foram vítimas dos piores e mais indizíveis tipos de crueldade humana. Essas histórias nos fazem refletir sobre a sociedade que construímos hoje, sobre nosso papel nela, sobre nossa humanidade ou a falta dela.
Como vocês sabem, estou lendo a bíblia e, apesar das postagens no blog estarem no começo, já avancei alguns livros. Acompanhando a história do povo escolhido desde o começo, sua gênese, tudo que fizeram e passaram, não conseguia não pensar nisso durante a leitura desse livro, embora a questão aqui siga muito além de somente religião. Mesmo os personagens desse livro sendo fictícios, os fatos aconteceram, pessoas reais viveram esses horrores e pensar nisso, sequer imaginar isso, é suficiente para despertar toda a revolta que possuímos em nós.
Mesmo sendo difícil, tendo que parar para ver algo mais leve, para distrair a cabeça com outra coisa, acho que é sim um livro que todo mundo devia ler, sentir, pensar, falar sobre. Não somos hoje muito diferentes da França de 1942, aquela que fecha os olhos, que escolhe não pensar nisso, não sentir empatia, esquecer, culpar outros. Precisamos desse tipo de história para nos sacudir, nos lembrar o que nos torna humanos, nos fazer lembrar o que realmente importa na vida.
Ficamos tão imersos nos comentários em redes sociais, nas roupas que "precisamos" comprar, no celular novo, na festa que precisa ser gravada. Tudo hoje é voltado para o hibope da nossa vida imaginária. Quando lemos esse tipo de histórias relembramos que um céu azul, um abraço de mãe, o conforto de um irmão, uma história doce e um pouco de água e comida é tudo que precisamos realmente para ser feliz. Dói sim, é horrível de ler, mas continuo pegando esse tipo de livro para me lembrar disso. Me lembrar deles e do que eles passaram pela crueldade de pessoas como eu e você, pela indiferença e o ato de virar o rosto para não ver.
.זכור. אל תשכח
(Zakhor. Al tichkah.)
Lembre-se. Nunca esqueça.
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