Nesse post eu quero expor um pouco o meu pensamento acerca do trabalho docente. É uma opinião bem pessoal e acredito que muitas pessoas vão discordar ao ler esse post, mas, ainda assim, é um desabafo que eu quero fazer e uma questão que eu acho que precisa ser mais abordada.
Eu me formei em letras no primeiro semestre do ano passado, fiz licenciatura não por escolha, mas pela falta de bacharelado mesmo e não escondo isso de ninguém. Tenho uma irmã que está no quinto período de pedagogia. No meu percurso universitário, já li mais sobre educação do que poderia suportar, não apenas no que se refere ao meu curso, mas principalmente no re se refere ao curso da minha irmã, porque - verdade seja dita - muitos alunos da universidade não querem se dar ao trabalho de ler. Quando leem não conseguem compreender, então simplesmente preferem pagar a alguém para pensar por eles.
A educação no Brasil é uma utopia, nós sabemos disso, vivemos em um país que não liga a mínima para isso e é proposital, pensar em educar a população é pensar em perder o controle sobre ela, em ter um público que pensa criticamente acerca do que lhes é empurrado "goela abaixo" pela mídia, dos discursos fraudulentos e mal feitos dos políticos absurdos que nos lideram, da manipulação ao qual são expostos diariamente até mesmo pelas pessoas próximas deles. E, pensar, meu amiguinhos, é algo perigoso em um país onde os "grandões" estão fazendo festa ás nossas custas, onde eles nos tem balançando a cabeça afirmativamente para cada nova idiotice que dizem e cada promessa patética que fazem - nós sabemos que eles não vão cumpri-las, mas por alguma razão, ainda acreditamos nelas. Só pode ser uma lavagem cerebral.
Na faculdade, falando especificamente da licenciatura que foi o que fiz, nossa grade curricular era absurda. Em um determinado período, eu tinha quatro aulas de psicologia e duas aulas de língua portuguesa! POR SEMANA. Aí o que eu pensava? Estou sendo formada para dar aula em pedagogia ou para dar aula de português e inglês em uma escola? A resposta é bem óbvia. E mesmo apesar dessa grade curricular absurda eu lhe asseguro, ninguém da minha sala saiu realmente preparado para assumir uma sala de aula. Ninguém. Durante os quatro anos de teorias pedagógicas - como chamo meu curso - fui bombardeada com textos e teorias do que era ser professor, do que deveria ser professor, de como é ser professor e o que é a educação. O que dá para concluir é que a educação e o ofício docente é lindo, no papel. Na prática, coleguinhas, é muito diferente.
A universidade acha que nos prepara para lindas classes onde todos os alunos são comportados, bons ouvintes e empenhados para aprender o que temos para ensinar - quando nem nós mesmos somos preparados para isso da forma correta - e não para alunos heterogêneos, de diferentes culturas e pensamentos, com vontade própria e que em sua grande maioria não estou dando a mínima para o que você quer dizer. Isso, porque educação no Brasil não é um valor. É uma imposição, feita pelos pais, feita pela sociedade que quer pagar de certinha, feita pelo Estado que acha que está cumprindo o seu dever. Eu fui aluna desde o antigo jardim, passei pelo fundamental, passei pelo ensino médio, passei pelo magistério (por livre e espontânea pressão), eu sei o que é ser aluno, o que é estar nos dois polos do trabalho porque fui obrigada a dar aula nos estágios. Não importa o que você faça, eles não vão te dar bola.
O professor é um dos profissionais mais multifacetados que existe, ele precisa ser psicólogo, médico, pai, orientador, computador de última geração, enciclopédia, dar aula a 50 alunos de uma vez e a cada um ao mesmo tempo, corre o risco de ser morto enquanto trabalha e ainda é criticado, rebaixado, e desvalorizado. A oferta de educação no Brasil foi muito facilitada, realmente, mas temos uma educação medíocre nas escolas, um ensino mecânico moldado em regras estratificadas sem qualquer contextualização que tornam o aluno um HD externo para armazenar teoria pro ENEM e pro vestibular, mas não para que ele reflita a sociedade em que ele vive, os programas que assiste, a cultura que segue e acha que é dele, que é nossa. Não faz ele entender por que ele não gosta do que nós fazemos. Digo isso por própria experiência, desde muito cedo eu sou uma consumidora compulsiva da cultura de fora: música, literatura, estilo... Por que? Porque eu não fui ensinada a gostar de MPB, não fui ensinada a me habituar ao calor insuportável do nordeste, não fui ensinada a compreender a graça e a expressão da arte brasileira. Felizmente, pelo menos no que toca à literatura, eu fui introduzida a alguns autores ainda na infância começando com Eva Funari, Maurício de Souza, Pedro Bandeira, mais tarde Ariano Suassuna, Machado de Assis (e antes da faculdade, tá?). Não sou uma total ignorante no que diz respeito à literatura feita em casa.
Eu observo que há dois tipos de professores: os raros e os comuns. Vou falar agora sobre a educação infantil que é onde está a origem de todo o mal. Fui uma aluna boa, sempre. Não conversava na sala, minha mãe nunca recebeu reclamação sobre mim, eu era tão quieta que era preocupante. Ainda assim, na infância, graças a fatores psicológicos que não vou comentar, eu desenvolvi uma aversão tão profunda à matemática que passei a vida inteira (e ainda sofro com isso) tendo que lidar com o extremo desespero em fazer a mais ridícula das somas, a situação é tão séria que nem com calculadora eu consigo ficar calma. É um bloqueio. Entretanto, durante toda a minha educação infantil nenhum professor se preocupou em sanar o problema, e eu tive excelentes professores durante toda a vida. Conheço várias professoras de ensino infantil, mas vou me deter a duas que vou chamar de S e E por nenhum motivo especial (simplesmente porque não quero usar A e B). Ambas trabalham com crianças, ambas em escolas não privadas, entretanto a professora S é tão envolvida com seus alunos e o processo de aprendizagem que cada uma de suas aulas se torna uma festa, ela se preocupa se eles estão conhecendo o que precisam conhecer, se estão progredindo na leitura, nas pequenas coisas que lhes compete para a idade em que estão. Ela trabalha por amor, uma coisa raríssima. Já, a professora E, em contrapartida, não se preocupa com os alunos. Há na sua sala um aluno com necessidades específicas que tem uma cuidadora e um aluno fora de faixa que ela deixa excluído porque, palavras dela, "está na cara que ele não quer nada com a vida" os alunos dela TODOS estão com graves atrasos na alfabetização, e é assim que eles vão passar de uma série para outra até chegar no fundamental II sem saber ler um texto. Mas tudo bem, porque o salário dela está na conta todo mês.
Esse tipo de professor, infelizmente, é comum em todo lugar, passei por alguns deles durante o magistério, voltei a passar por alguns deles na faculdade e acho que ninguém está livre. Para cada 1 professor raro, existem 10 comuns. O mais engraçado é que justamente esse aluno excluído - provavelmente porque veio do descaso de outros professores, é o que mais precisa de atenção e o primeiro a ser deixado de lado e situações como essa se repetem com uma frequência assustadora em salas pelo país. Eu tinha uma professora na faculdade que me conhecia desde o ensino médio, passou por mim também no magistério e a reencontrei na faculdade. Essa mulher acreditava piamente no meu "potencial em dar aulas", talvez por eu sempre ter gostado muito de inglês desde a quinta série, a fascinação de aprender uma língua diferente era enorme. Quando me formei, a pressão para fazer concursos de professor de inglês, para me candidatar a escolas, para dar aula de reforço começou quando na verdade sempre deixei claro que eu não queria dar aulas. Em primeiro lugar, não sou capaz de dar aula, não tenho a mínima didática para isso e a faculdade não me ajudou em nada nem em termos de pedagogia nem em termos de conteúdo. O que aprendi, aprendi sozinha e com o auxílio dos poucos professores competentes que conheci em quatro anos de formação (não vou citar nomes para não correr o risco de esquecer ninguém). Segundo, já estive em salas de aula o bastante durante os famigerados estágios para saber que não sou capaz psicologicamente de suportar a pressão e, principalmente, a responsabilidade de carregar nos ombros o aprendizado de alguém, principalmente por saber como esse aprendizado é importante e vai ser realmente válido na vida dessa pessoa. Terceiro, é uma profissão importante demais para ser feita por fazer, como muitos fazem, e eu tenho terror de ser uma professora E na vida de alguém. Não seria algo que eu faria realmente por amor, então, prefiro não fazer, me chame do que quiser.
Eu vejo exigências, vejo professores tendo que se virar como podem para lidar com cada vez mais dificuldades no dia a dia de uma escola onde ninguém os apoia, onde todo mundo só faz tudo por dinheiro, em um país que está afundado no caos e não liga para o único meio que é capaz de salvá-lo: a educação. Sempre que estou perdendo a esperança, penso na minha amiga S... dessa sociedade podre, pelo menos alguns poucos vão sair conscientes do mundo, ainda que em parte. É triste, mas é a realidade que nos cerca... então, ser professor para que? Para quem? E, principalmente, Por quê?
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