Desde que o meu avô ficou doente as palavras sossego, paz, calma, tempo e alegria desapareceram dos meus dias, eu não tenho tido tempo para me dedicar a mais nada porque passo a maior parte do dia na droga da lan house e não ficar lá seria muito egoísta da minha parte porque o meu pai precisa dormir. As coisas não melhoraram em nada, essa casa parece um velório e piora a cada dia que passa. Uma coisa mórbida, cinza, em que cada canto parece esconder um carma ruim. Até mesmo nos fins de semana as coisas não melhoram em nada e isso não tem ajudado nem um pouco no meu estado de espírito. A minha irmã virou quase uma desconhecida pra mim, antes os finais de semana eram nossos, a gente assistia um filme com pipoca ou fazia as unhas conversando sobre bobagens, hoje ela sai do trabalho no sábado e vai pra casa de não sei quem fazer unha, no domingo vai não sei pra onde ter aula de violão ou não sei quem vem aqui pra casa. Como aconteceu ontem, eu não fui pra faculdade e a gente tinha combinado que ela não ia pra escola e veríamos um filme juntas, o que aconteceu? Uma amiga estranha dela veio pra cá e ficou de papo a noite toda, fiquei sozinha com a televisão. É a mesma "amiga" esquisita que eu falei em outro post e que tem a irritante mania de me chamar de "menina simpática", claro que sarcasticamente porque de simpática eu não tenho nada. Enfim, isso também anda me chateando.
Não sei se deu pra perceber quando assistiram a resenha do livro Formaturas Infernais, mas meu ânimo está realmente horrível, ok, eu também estava cansada... Tinha acabado de arrumar a casa e colocado ordem no meu quarto pela milésima vez, para que a minha irmã venha e bagunce tudo de novo como ela já começou a fazer. - Porque nisso ela me "ajuda" muito! - Minha mãe anda com um humor daqueles... Sei lá, queria ter uma amiga para ligar e dizer: Oi, posso ficar na sua casa hoje? Mas eu não tenho. Essa rotina ta ficando pesada demais pra carregar, e a minha cabeça ta um caos. Eu só queria parar um pouco, de pensar, de sentir, de tudo. Dar um tempo de todo mundo e de todos os lugares.
Hoje foi o único dia que eu não fiquei presa na lan house com um monte de cliente mal educado e barulho ensurdecedor de grito e de jogo. Aproveitei pra depois de arrumar a casa ver um filme sozinha, já que a minha querida irmã decidiu ir do trabalho para casa de sei lá quem. Vi um desenho de 1994 que marcou minha infância, senti saudade de quando eu tinha quatro anos, de como as coisas eram mais fáceis, de como o mundo era melhor, de como os desenhos eram bonitos, cheios de cores e de magia... De como a inocência era fantástica. Eu sempre estive certa em não querer crescer. Fiz planos sobre tarefas a cumprir amanhã, espero que minha mãe não me faça dar uma de babá de criança na lan house de novo, ela costuma fazer isso. E não sei porque tem que ser só eu, na semana eu até engulo, só tem eu em casa, mas amanhã não, Karynny também ta em casa. Porque eu tenho que ficar lá? Ah, deve ser porque do ponto de vista dela eu sou a única que nunca tem nada pra fazer.
Vontade grande de sumir.
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