segunda-feira, 2 de abril de 2018

[Livro] O Diário de Anne Frank (Livro + adaptação 2009)

Título Original: The Diary of Anne Frank
Publicação original: 1947
Publicação em Inglês: 1952
Gênero: Autobiografia
Páginas: 373 (bestbolso)

Sinopse: Em 9 de julho de 1942, Anne, seus pais, sua irmã e outros judeus (Albert Dussel e a família van Daan) se esconderam em um Anexo secreto junto ao escritório de Otto H. Frank (pai de Anne), em Amsterdã, durante a ocupação nazista dos Países Baixos. Inicialmente, Anne Frank usa seu diário para contar sobre sua vida antes do confinamento e depois narra momentos vivenciados pelo grupo de pessoas confinadas no Anexo. Em 4 de agosto de 1944, agentes da Gestapo detiveram todos os ocupantes que estavam escondidos em Amsterdã. Separaram Anne de seus pais e levaram-nos para os campos de concentração. O diário de Anne Frank foi entregue por Miep Gies a Otto H. Frank, seu pai, após a morte de Anne Frank ser confirmada. Anne Frank faleceu no campo de concentração Bergen-Belsen em março de 1945, quando tinha 15 anos.

Por causa da semana santa, a leitura do livro atrasou, mas estou muito satisfeita por isso minha fé foi fortalecida nesses dias, eu sou a filha de um Deus maravilhoso. Hoje, apesar de ter acordado tarde me propus a terminar, não faltavam mais de cento e trinta páginas e passei o dia inteiro preso nele, eu não vou fazer um detalhamento do enredo como costume porque todos nós sabemos como essa história termina, por isso me ater às minhas impressões e pensamentos durante a leitura, nem vou me preocupar com spoilers uma vez que não acho necessidade já que esse é um dos livros mais lidos do mundo.

Esse é o terceiro livro sobre a segunda guerra que eu leio, contudo de todos foi o que me impactou menos, na verdade houve momentos que me vi rindo, outros fiquei um pouco chocada e triste, mas não me causou aquele sentimento de impotência que aconteceu, por exemplo, na leitura de O Pianista, mesmo sabendo que tudo relatado nesse livro aconteceu de verdade. Apesar da situação entre os dois livros (Frank e o pianista) ser a mesma, elas acontecem sob óticas diferentes, O pianista (cujo nome não consigo escrever, sério) estava sozinho, fugindo constantemente e se submetendo aos mais sérios graus de privação, se por um lado a situação de Anne e as oito pessoas do anexo na Holanda era parecida, pelo menos eles tinham quem lhes ajudasse, recebiam comida e tinham como sobreviver mesmo em face às dificuldades, é um relato mais intimista e menos difícil de ler que O Pianista que, para mim, foi muito pesado e me fez parar várias vezes envergonhada da minha espécie.

A primeira coisa a se saber sobre Anne Frank é que ela não é, de modo algum, o tipo de adolescente que conhecemos, insegura, retraída e em busca do constante "autoconhecimento". Ela é bem segura de si, as vezes até um pouco egocêntrica posso dizer, tem uma maturidade bem desenvolvida para sua idade e a língua afiada demais. Quando sua irmã é convocada pelo exército alemão, a família Frank precisa adiantar sua fuga para o esconderijo previamente ajeitado por um amigo na empresa em que Otto, pai de Anne, trabalhava. Eles são a primeira família no que Anne vem chamar de Anexo Secreto, ela começa a escrever, a partir daí, o seu diário, presente que escolheu no aniversário daquele ano. Pouco depois a família Van Daan se une a eles, esposa, marido e filho, a convivência, inicialmente é pacífica, apesar dos evidentes defeitos de Petronella, a última adição ao anexo é o dentista Dussel, um homem instável e de gênio difícil.

Uma das primeiras coisas que prestei atenção durante a leitura foi como as pessoas, mesmo diante das piores situações, conseguem ser egoístas, mesquinhas e intransigentes, por exemplo, o senhor Dussel esconde comida dos demais, os Van Daan que além de esconder comida numa situação ruim para todo mundo, percebi também como é difícil a convivência com pessoas da nossa própria família, pensa comigo: você mora com seus pais, seus irmãos se tiver e vocês se conhecem até certo ponto porque nunca estão o tempo todo juntos de verdade. Vou me dar como exemplo: encontro meus pais nas refeições quando temos a sorte de comer todos juntos, normalmente almoço sozinha ou com apenas um deles, estou lendo, no meu quarto escrevendo ou estudando, a pessoa com quem passo mais tempo é a minha irmã.

Agora imagine se fôssemos forçados a conviver todo o tempo juntos no mesmo cômodo. Todos os defeitos mínimos antes despercebidos ou levemente ignorados vêm à tona com força total. É o que vemos acontecer com Anne, principalmente no relacionamento com a sua mãe, por diversas vezes ela ressalta que não gosta da mãe, uma vez chegando a dizer que a odeia. Nessas passagens eu ficava pensando no meu próprio relacionamento com a minha mãe, é difícil, mas nunca na minha vida, por mais raiva que tivesse, disse que odiava minha mãe. Contudo, a gente tem que levar em consideração não apenas a idade dela - adolescente, com os hormônios à flor da pele, numa situação de confinamento onde, de repente, toda a sua vida virou de cabeça para baixo. 

Durante quase todo o tempo, Anne relata que é incompreendida e relata as injustiças que sofre por sua personalidade forte. Nesses pontos, apesar de ela parecer muito impertinente ás vezes, a gente consegue se solidarizar com ela. Um outro ponto muito interessante é a descoberta da sexualidade dela, eu já tinha uma ideia bem rasa de como os judeus tratam esse assunto, mas ver isso pelo ponto de vista de Anne, uma judia real, foi muito interessante, reforçou o pouco que eu já sabia e acrescentou algumas coisas. O modo como ela vai descobrindo sobre o próprio corpo e as relações entre casais é realmente inusitada, inclusive, ela chega a dizer que sentiu desejo por mulheres em determinada parte. O pensamento dela a respeito do sexo também é muito contrário ao que prega sua religião e eu achei isso bem... interessante na falta de uma palavra melhor.

Mas o que eu acho mais forte nesse livro, além de todas as maneiras muitas vezes contraditórias e maduras de pensar da Anne, é o modo como ela busca a fé e o ânimo mesmo no meio da situação mais triste. Ela é uma pessoa real, reconhece seus defeitos, tem esperanças de uma vida melhor depois da guerra, constrói sonhos, encara seus sentimentos e a si mesma com a cabeça erguida, sempre acreditando numa vida melhor. Isso é uma baita lição para nós que choramos e fazemos tempestade em copo d'água muitas vezes com dificuldades tão pequenas. Quando leio livros assim começo a pensar na minha liberdade, na fartura de ter comida na mesa mesmo durante os piores períodos e eu sei muito bem o que é comer batata frita por não ter mais nada na geladeira, penso na dádiva que é poder pensar, sentir, sonhar e acreditar que o futuro é sim uma possibilidade.

Contudo, a sensação principal que eu tive lendo o diário de Anne foi a de que é preciso viver cada dia como se tudo fosse acabar no minuto seguinte. Dizer sempre as pessoas que as amamos e, se possível, dizer porque também, pois não sabemos quando vamos perder essa oportunidade. Acompanhar as esperanças de Anne e da sua família por um futuro melhor me causava uma profunda tristeza porque eu sabia que o futuro deles estava selado, que o amanhã que esperavam não chegaria e quando você chega no final do livro você vê o quanto a vida é efêmera e o quanto o ser humano pode ser baixo.

Quotes favoritas:

"Excelentes espécimes da humanidade, esses alemães, e pensar que na verdade sou um deles! Não, isso não é verdade, Hitler retirou nossa nacionalidade há muito tempo."
"A gente pode estar sozinha mesmo quando é amada por muitas pessoas, quando não é o "único amor" de ninguém."
"Por que se gastam milhões com a guerra a cada dia, enquanto não existe um centavo para a ciência médica, para os artistas e para os pobres? Por que milhões de pessoas têm de passar fome, quando montanhas de comida apodrecem em outras partes do mundo? Ah, por que as pessoas são tão malucas? (Até hoje continuamos nos perguntando isso, Anne)."
(...) somos tratadas como crianças quando se trata de questões externas, e por dentro somos muito mais velhas que garotas da nossa idade. 
Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse dom, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe dentro de mim. Quando escrevo, consigo afastar todas as preocupações. Minha tristeza desaparece, meu ânimo renasce!  (Anne Frank descrevendo minha sensação com relação à escrita)
Não acredito que a guerra seja apenas obra política e capitalista. Ah, não, o homem comum é igualmente culpado; caso contrário, pos povos e nações teriam se rebelado ha muito tempo! Há uma necessidade destrutiva nas pessoas, a necessidade de demonstrar fúria, de assassinar e matar. E até que toda a humanidade, sem exceção, passe por uma metamorfose, as guerras continuarão a ser declaradas e tudo que foi cuidadosamente construído, cultivado e criado será cortado e destruído só para começar outra vez. 
Acho, inclusive, muito injusto que só haja reconhecimento para as pessoas depois que elas se vão. Vamos reconhecer as pessoas quando estão vivas, deem flores aos vivos para não murchá-las de remorso após suas mortes.


 Adaptação de 2009: O Diário de Anne Frank

Título: The Diary of Anne Frank (Original)
Ano produção: 2009
Dirigido por Jon Jones
Estreia: 5 de Janeiro de 2009 ( Mundial )
Duração: 150 minutos
País: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
Elenco:
• Ellie Kendrick como  Anne Frank

• Iain Glen como Otto Frank

• Tamsin Greig como Edith Frank

• Felicity Jones como Margot Frank

• Geoff Breton como Peter Van Daan

• Lesley Sharp como Petronella Van Daan

• Ron Cook como Hermann Van Daan

• Nicholas Farrell como Albert Dussell

• Kate Ashfield como Miep Gies

• Mariah Gale como Beb Voskuijl

• Tim Dantay como Sr. Kugler

• Roger Frost como Sr. Kleiman

Eu escolhi ver o filme de 2009 sabendo das outras adaptações simplesmente pelo fato de ele ter uma hora a menos que a versão de 2016 e por eu não ser muito fã de filmes antigos. 

Num cômputo geral, a história é bem retratada abraçando os principais eventos descritos no diário com uma fidelidade muito boa. Vi alguns comentários dizendo que era a melhor adaptação do diário, não posso afirmar porque não cheguei a ver outras, mas concordo que foi realmente muito bem feita e conta com boas atuações. Algumas partes foram cortadas como já era de se esperar, mas achei o filme bem feito e fiel ao livro ao ponto de não causar ira. Não foi realmente comovente, pelo menos eu não chorei, mas dá sim a mesma sensação de angústia que sente-se lendo o livro.

Sempre acho bacana em adaptações bem feitas uma ampliação da minha imaginação limitada com o passar do tempo, consigo visualizar melhor os cenários e figurinos, como se o filme que passava na minha cabeça durante a leitura ganhasse uma vida real e é por isso que super recomendo esse filme, vi depois que era uma produção da BBC que eu sou muito apaixonada por terem feito adaptações maravilhosas de obras de Jane Austen, principalmente a brilhante minissérie de Razão e Sensibilidade, meu livro favorito da Jane. Então, está super recomendada essa adaptação do diário!




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