sábado, 2 de fevereiro de 2013

Crise

Já se sentiu deslocado no seu próprio mundo? Como se tudo que você mais ansiasse fazer estivesse ha milhas de distância de ser real ou no mínimo possível? Eu já, basicamente todo tempo. Pensei que quando eu atingisse certa idade eu pararia de ver o tempo correndo tão depressa como se a minha vida estivesse prestes a acabar e eu não tivesse feito nada, mas infelizmente eu ainda vivo assombrada por essa ansiedade pavorosa todo o tempo, como se os dias fossem mais curtos e eu nunca chegasse onde deveria chegar... É a sensação mais bizarra que eu já senti em toda a minha vida, que eu continuo sentindo independente do meu controle.
Eu queria simplesmente parar. Fazer uma coisa de cada vez e sentir cada vibração como qualquer pessoa normal e sã costuma fazer, ver a vida como ela realmente é de forma tranquila e presente e não como se tivesse uma doença terminal que pode te levar embora a qualquer momento... Como se o tempo fosse sempre curto e desfavorável. No contexto de hoje em dia isso não é de se admirar também, as pessoas hoje em dia são muito "estranhas" em sua totalidade, nós criticamos hoje em dia as coisas certas para dar razão as erradas, hoje se mata por nada. Por mais restrições e dificuldades que pudessem existir, cada vez que vejo algo dos séculos passados me convenço de que era melhor viver em uma época de restrições e rigidez cega onde pelo menos havia, de certa forma, paz e disciplina. Eu não consigo me acostumar com esse mundo de hoje, com as pessoas de hoje.
Enquanto arrumava a casa, me deixei embalar pelas músicas que eu gostava de escutar antes de conhecer o David, antes de ele colocar na minha cabeça Epica, Nightwish e Sirenia, e foi como se eu voltasse no tempo quando cantar era uma coisa íntima entre eu e o celular, quando escrever e ler estavam no topo das minhas prioridades, mas eram apenas algo que me fazia feliz livre da pressão da ansiedade de tomar isso como algo mais grandioso do que realmente é, quando minha maior preocupação era a nota da prova de matemática no magistério que eu fui forçada a fazer, onde ainda havia eu no meu mundo de fantasias em que só eu tinha acesso, onde ainda havia risos bobos e brincadeiras torpes... Onde eu ainda conseguia voar. As vezes eu paro para pensar se começar esse tratamento foi realmente uma boa escolha, desde que eu tenho começado com essa maratona monótona de terapia de grupo (que por sinal eu detesto) e remédios controlados para obrigar meu organismo a ficar calmo eu tenho como que entrado em um universo alternativo, perdi meu mundo de fantasia onde eu me refugiava tão bem e também perdi minhas lágrimas... Não acredito em um bem estar provocado por uma droga, e desde que iniciei essa "ajuda" eu tenho pensado em como as coisas ficaram amargas, diferentes e ainda mais estranhas do que eram. Em parte eu preferia ficar chorando direto, pelo menos eu tinha um lugar para onde correr dentro da minha mente, um lugar onde eu era inatingível, onde eu realmente era feliz. Agora é como se esse mundo tivesse pego fogo... E ficasse em ruínas perdido em um lugar inalcançável demais para que eu possa reconstruir.
A faculdade começou a me sufocar, e esse é só o começo, acho que eu não estou preparada para o mundo e começo a me perguntar se ter um futuro trancada em um sanatório pode ser chamado de escolha de vida, porque eu tenho pensado muito no assunto ultimamente. Eu tenho me revoltado comigo, com Deus, com o destino, com cada respirar que eu dou involuntariamente e parece ao mesmo tempo tão proposital e sem serventia. Sinto falta da garota medrosa que odiava falar e tinha a cara fechada para todo mundo em sinal de não se aproxime de mim e agora parece parcialmente impossível trazê-la de volta, embora eu possa me esforçar para tal. Não há como conviver com as pessoas hoje em dia, elas não são confiáveis, não são leais e muito menos humanas, são seres quase desprovidos de alma e as pessoas que estão longe de você te dão muito mais valor do que as que estão ao seu lado! É o que me acontece o tempo inteiro. Prefiro a companhia de uma gente que eu nunca vi, que provavelmente pode ou não estar mentindo pra mim, mas que me demonstram mais sinceridade e afeto do que pessoas que convivem comigo (de certo modo) e que tem a minha presença; Não me importo, inclusive, se um deles demonstrar um comportamento psicótico para comigo, pelo menos eu vou estar imersa na doce ilusão do carinho.
Tenho me perguntando frequentemente quando foi que tudo a minha volta, de repente, perdeu o sentido e a cor... Não consigo me lembrar e isso tem me frustrado muito, desde que eu voltei a ler com assiduidade tenho encontrado um parcial refúgio abrasador para minha alma, mas mesmo assim não é algo completo, embora o prazer que a leitura me proporciona seja nostalgicamente maravilhoso como antes... Quando eu era íntima da biblioteca da escola. Estou apreciando por demasia a volta à essa experiência, e tenho me saído magnificamente bem, ao contrário de muitas pessoas que voltam ou começam com o hábito da leitura que implica em sono e dor de cabeça, o que graças aos céus não tem me ocorrido, muito pelo contrário. Acabei de ler a série Fallen com louvor, devorei o quarto livro em três dias e posso assegurar com precisão de fã e leitora que na minha opinião, supera em sua grande maioria a saga Crepúsculo, de quem também sou admiradora. A série é maravilhosa e Lauren Kate, desde seu primeiro livro (fallen) é minha maior fonte de inspiração narrativa, é impossível não se envolver em sua maneira tão doce de narrar, clara, concreta, explícita e envolvente. Ela é meu maior ícone e espelho. Hoje, assisti ao filme Amor e Inocência (Becoming Jane) que letara a biografia de Jane Austen, fiquei fascinada por ela ao assistir Orgulho e Preconceito que também está como meta de leitura para este ano, ela é fascinante.
Posso dizer que hoje eu me senti livre, para gostar do que eu gosto, para pensar como eu penso, para voar para longe de tudo que eu conheço, para mergulhar no mais profundo de mim e encontrar o nada naquilo de tudo que eu fui um dia.

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