A História de O é um livro erótico de uma autora francesa chamada Pauline Réage e publicado post-mortem. Eu soube da existência deste livro por intermédio da Tatiana Feltrim do vlog tinny little things que eu acho que vocês devem conhecer. Ela o citou quando resenhou o famigerado 50 tons de cinza, enquanto eu procurava um livro na internet, eis que me surge este no lelivros.com disponível para baixar. Curiosa como sou e ciente do que se tratava e do que a Tatiana tinha falado dele, decidi dar uma chance. Vocês sabem que eu não costumo ler esse tipo de literatura, e hoje em dia parecem esquecer que entre o erotismo e a pornografia há uma lacuna sem tamanho.
Para começar, temos um prefácio de outra autora (creio eu que também francesa) que tenta nos convencer acerca da submissão, do milhão de possibilidades a que somos abertos quando cedemos e abrimos mão das nossas vontades e pensamentos em prol da vontade de uma pessoa que ganha direito de nos tratar como nada. Achei o discurso meio ilógico e de uma filosofia deturpada. Mas há quem goste.
No primeiro capítulo, somos apresentadas a O, uma mulher cuja idade não é especificada, mas que tem um amante aparentemente fixo, ele a coloca dentro de um carro e tira-lhe partes específicas da roupa. Ela sempre assente, calada. A partir daí eu já fiquei meio assim... sabe? Mas okay, era um livro de sadomasoquismo, afinal. Ele a leva para uma casa estranha, ela é despida, prendem uma espécie de colar de couro - se é que eu entendi direito - e pulseiras do mesmo tipo, com espécies de anéis que eu vim a descobrir servirem para prender as mãos e o pescoço dela. Até aí, okay, então duas gurias vestidas com roupas do século XVIII levam ela para uma sala com 04 fulanos que do nada a estupram. Sim, meus queridos, é isso mesmo. E o que ela faz? Nada. Grita, fica desentendida. Mas não fala e nem faz NADA. Eles dão uma série de regras ridículas e machistas e ela fica calada, assentindo igual uma lagartixa. Depois ela é açoitada, presa, violentada de novo, e páginas pra frente ainda temos a audácia de ouvi-la dizer que se é um preço a pagar pelo "amor" do amante dela, que seja.
Ah, meus amigos, aí foi a gota d'água pra mim.
Tudo bem que você tenha costumes estranhos, isso é um particular seu. Não reprovo quem tem essas manias bizarras de amarrar e apanhar, problema seu, de boas, mas a aceitação dessa personagem a tudo isso é absurda! Ela é mentalmente doente, na boa. E os quatro fulanos são tão ou mais doentes que ela! Cárcere privado, mutilação, estupro, danos psicológicos, físicos e morais. Isso é crime. Mas é tratado nesse livro como se fosse, sei lá, uma opção de vida. E a infame personagem não faz porra nenhuma além de chorar, gemer e gritar. A vá. Que mulher é essa? É como se ela fosse uma concha vazia, não tem força de vontade, não tem objetivos, não tem pensamentos próprios, nada. Como se a vida dela não valesse nada. Ela é posta na situação, entra na situação e se deixa submeter como se fosse natural. Aí, eu larguei. Não deu pra mim. É o tipo de personagem insípida que ia me fazer raiva o livro todo.
Mas uma coisa eu tenho a dizer de positivo nesse livro. Há a gritante diferença entre o EROTISMO e a PORNOGRAFIA que é o que vemos nos livros pós 50 tons de cinza. Não sei se viram na tag escrita em que eu falei sobre a diferença entre os dois, dei um exemplo usando um trecho do livro da James que achei em um blog, os termos utilizados, a linguagem, tudo leva a crer ser um livro pornô mal escrito. Mas esse não, apesar de ser minucioso e ter um narrador onisciente, a linguagem é totalmente diferente, velada, quase poética, realmente dada ao erotismo cuja característica principal é despertar emoções através da libido e não ensinar palavrões para partes do corpo que você só sabia a utilidade prática. Esse é um trecho do primeiro capítulo que ilustra bem o que eu digo:
comentou com seu companheiro que este tinha razão e agradeceu-lhea crescentando que era justo que a possuísse primeiro, se tivesse esse desejo. O desconhecido, a quem não ousava olhar, depois de passar-lhe a mão sobre seus seios e suas nádegas, pediulhe que abrisse as pernas. "Obedeça", disse René; e manteve-se de pé, apoiada de costas nele próprio, que também estava de pé, acariciando seu seio com uma mão enquanto com a outra sustentava seu ombro. O desconhecido tinha se sentado na beira da cama e, puxando-a pelos pêlos, segurava e abria lentamente os lábios que protegiam a cavidade do ventre. René, ao compreender o que se queria dela, empurrou-a para a frente, para que ficasse mais ao alcance, e com o braço direito rodeou sua cintura oferecendo uma maior firmeza. O percebeu imediatamente que não escaparia a esta carícia que nunca aceitara sem se debater e ficar coberta de vergonha, da qual sempre se esquivara o mais rápido possível, tão rápido que mal tinha tempo de ser atingida, e que lhe parecia sacrílega porque parecia-lhe sacrílego que seu amante estivesse a seus joelhos, quando ela é quem devia estar aos seus. Viu-se perdida; pois gemeu quando os lábios estranhos que se apoiavam sobre o monte de carne que sai da corola interior inflamaram-na subitamente, só a deixando para que a ponta quente da língua a inflamasse mais ainda; e gemeu mais forte quando os lábios recomeçaram. Sentiu que a ponta escondida se endurecia e se levantava entre os dentes e os lábios que a uma longa mordida aspirava e não mais largava, e sob a qual ofegava. Sentiu que ainda perdia o equilíbrio e encontrou-se deitada de costas com a boca de René sobre sua boca; suas mãos mantinham seus ombros pregados na cama, enquanto duas outras mãos, segurando-a sob os joelhos, abriam e levantavam suas pernas. Suas próprias mãos que se encontravam sob suas nádegas (pois no momento em que René a empurrara para o desconhecido tinha amarrado seus pulsos juntando os anéis dos braceletes), suas próprias mãos roçaram o sexo do homem que se acariciava no sulco de suas nádegas, subia e ia bater no fundo de seu ventre. Ao primeiro golpe, gritou como sob o chicote e novamente gritava a cada golpe até seu amante morder-lhe a boca. Arrancando-se bruscamente, o homem finalmente deixou-a, e projetado ao chão como um raio, também ele gritou. René desamarrou então as mãos de O, levantou-a e deitou- a sob a coberta.
Percebem como a linguagem utilizada é "limpa"? Para um livro desse tipo, essa parte me surpreendeu e agradou até, bem diferente do que se vê nos wattpads da vida e em alguns "best sellers" que vendem como água por aí. Em compensação, esse é o único ponto bom que achei no livro, a linguagem velada. De resto. Abandonei no primeiro capítulo, vi que não era o tipo de coisa que me agradaria ler e ninguém pode dizer que eu não tentei u.u
Pesquisando na wikipédia, vi que o enredo não melhora muito...
[ATENÇÃO, O TEXTO A SEGUIR CONTÊM SPOILERS]
Roissy é uma propriedade particular; no seu interior muitas mulheres são educadas para serem submissas à vontade dos homens. "O" deixa-se ensinar para ser uma perfeita submissa e aprende ser uma escrava. Como parte de seu treinamento, ela é amarrada, chicoteada e aprende a ser a qualquer momento e para todos sexualmente disponível.
Depois de completar sua formação, ela, como mais uma prova do amor, concorda com o pedido de René para viver temporariamente com um amigo paternal dele, Sir Stephen, e se submete incondicionalmente aos desejos dele. Sir Stephen revela-se ainda mais dominante que René, por isso O apaixona-se por ele. Como prova final de seu amor, ela passa por um treinamento ainda mais rigoroso, em um lugar habitado e gerenciado exclusivamente por mulheres, denominada Samois. Lá, ela concorda em obter uma marca de ferrete e um piercing em forma de anéis na vagina, como o sinal definitivo de sua submissão.
Tudo é descrito na perspectiva da heroína, cuja vida interior é retratado de uma maneira sutil, sem ser avaliada moralmente ou psicologicamente. É famosa uma cena de violação e tortura em que ela repara que os chinelos de seu amante são gastos e ela teria na próxima oportunidade adquirir novos. Na linguagem e estilo, a obra fica na tradição da literatura clássica francesa. Apesar da temática o livro é escrito sem palavras obscenas.
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