quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Um ensaio sobre as palavras: Me sentindo a pior

Eu tinha prometido a mim mesma que nunca mais ia fazer um post desse tipo no meu blog, ele não é mais meu diário propriamente dito, na verdade, eu nem sei se alguém realmente lê o que eu escrevo aqui, mas se ler eu quero dividir como me sinto com você, quero compartilhar um pouco esse momento que estou passando porque, se alguma vez na sua vida você já se sentiu assim eu sei que vai me entender. 
Quando eu decidi que o que realmente queria para minha vida era escrever, acho que eu tinha uns dez pra doze anos, em algum intervalo nesse tempo eu disse a mim mesma que queria fazer das palavras meu meio de vida, não anseio, de todo modo, me tornar mundialmente conhecida ou famosa, nada disso, só queria na verdade ser lida, receber o suficiente para pagar as contas e viver minha vida. Durante a maior parte da minha vida, enquanto estudava e sofria com a maldita depressão e ansiedade, eu mergulhava em palavras que esperava que um dia alguém fosse ler e conseguisse sentir o que eu sentia quando escrevi, conseguisse ter algum tipo de sensação, pegar alguma marca no final daquilo que leu. Olhar para mim ou mesmo escrever um email e dizer: oi, li o seu livro, obrigada ele de alguma forma fez diferença para mim. Proporcionar sensações e lazer era meu principal objetivo. Por isso comecei a postar histórias no Nyah, queria saber o que as pessoas pensavam daquilo, queria ver se havia alguma chance pra mim, não sei se foi uma maluquice minha ou se as pessoas ficaram com pena, mas comecei a ter esperança que sim. Passei quatro anos na faculdade de Letras rejeitando a ideia de ser professora, mas absorvendo o máximo que podia sobre literatura para dar o melhor de mim ainda mais. E de repente, havia um milhão de pessoas querendo escrever e se por um lado isso é bom, por outro diminuía as pessoas que realmente queriam ler. 
Acho que é um carma meu sempre chegar atrasada nas coisas. Tive uma "rebeldia" adolescente tardia, sempre estava um passo atrás em tudo que fazia. Ainda assim, em nenhum momento eu realmente desisti, por mais difícil que as coisas estivessem, por mais que eu pensasse que nunca conseguiria, mesmo sem nenhum apoio de verdade, principalmente das pessoas da minha própria família, eu permaneci escrevendo, porque eu sei que em algum momento a minha hora vai chegar. Criar é parte do que eu sou, mas não adianta nada criar se não tem ninguém para validar o seu empenho, e não digo isso por ter publicado três livros que não vendem, eu falo mesmo pelas minhas histórias no Nyah ou no Wattpad que ninguém dá bola.
Eu não sou muito boa com marketing, admito, mas me esforço muito pra isso. Não tenho dinheiro pra investir então faço do melhor jeito que posso. Posso não ser a criatura mais simpática do mundo, mas nunca deixo um comentário sem resposta, agradeço a leitura que me dedicam, o tempo gasto lendo algo que eu fiz, eu reconheço isso. Será que é porque eu não escrevo o erotismo da modinha? Já me perguntei isso um milhão de vezes, mas me recuso a acreditar que a literatura é só sexo, eu cresci em um tempo que o tipo de livro mais "picante" que tinha em uma prateleira eram as Sabrinas e Julias da escola. Será que chegou em um ponto que se não tiver sexo a cada duas páginas não vale mais a pena? Tudo tem que ser um 50 tons de cinza ou derivados? Eu realmente espero que não. Realmente não tenho nada contra quem curte esse tipo de coisa, vai do gosto e da vontade de cada um, mas magoa muito a gente se dedicar horas a fio para mandar um capítulo o mais emocionante e impecável que pode e perder para uma fic mal escrita, cheia de palavrões e sem um plano de fundo real. Não que todas as fics eróticas sejam assim, mas a sua grande maioria são. Basta pôr um homem ou uma mulher pelada na capa e pronto, tá cheio de gente querendo ler.
E o que acontece com pessoas que não escrevem esse tipo de coisa? Que acham que as histórias tem que ter mais que isso? Sei que escrever no Brasil é difícil, mas só é difícil para os brasileiros, porque os gringos são massa aqui. Às vezes, realmente chego a me questionar se vale mesmo a pena. Eu tinha nove anos quando comecei a História de Pedro e Ana, o que eu sabia sobre a vida com nove anos? Não muito, admito. Mas escrevi um livro com trinta e oito capítulos à mão sobre uma menina que sofria depressão e não via nada à sua frente além de escuridão e cuja única âncora que a impedia de enlouquecer era seu melhor amigo. Em nenhum momento da minha vida eu enchi o peito para me vangloriar ou cuspi pro céu me chamando de escritora. Ainda hoje não faço isso, porque a estrada do aprendizado nunca termina e eu sei reconhecer meu lugar de aprendiz, sou uma garota mortal como qualquer outra, crio minhas histórias dentro da insignificância da vida que conheço e da que invento.
Quase todos os dias, escuto de algumas pessoas próximas que não sirvo pra nada, sou gorda, constantemente sou comparada com a minha irmã que é "a boa em tudo" na visão deles, a frase da minha vida virou "vá procurar o que fazer", eu sou a orca boa vida que não sabe fazer nada. Mesmo assim, todos os dias eu me sento nessa cadeira e passo horas pensando nos rumos que a minha personagem pode tomar, se alguém vai ler e gostar daquela cena, se eu estou fazendo algo direito, se aquilo vai ou não causar alguma emoção. Mesmo sabendo que quando eu postar aquilo ninguém vai se importar, eu continuo fazendo, eu continuo notificando a um monte de gente em grupos que atualizei.
Porque eu sei que se deixar as palavras deles me vencerem eu vou perder a minha fé e, sem ela, eu perco tudo. A esperança é a última coisa que eu tenho, meu último trunfo e meu último recurso. Foi esperança que me fez ficar sentada naquela mesa no meio de um congresso na faculdade com mais de 25 livros que acabaram dentro de uma caixa e que foi vendido para minha própria família porque ninguém mais quis saber. Foi a esperança que me fez pedir para uma amiga revisar Sleeping Beauty e passei mais de dois meses escrevendo e reescrevendo capítulos para publicar em um site achando que as dez recomendações e 180 comentários do Nyah ajudariam o livro. Foi a esperança que me fez ficar três meses estudando terror e formas de impactar o medo através da estilística para mesclar elementos do gênero em uma obra clássica Inglesa. E é a esperança que me mantêm aqui, na frente desse laptop com o word aberto preparando uma história para a qual eu sei que ninguém vai dar bola. Porque nem os "boa sorte" que eu recebo em sua maioria são cem por cento sinceros. 
Sou um peso para minha família. Participo de concursos literários nos quais não sou nem mencionada. Tímida demais para participar de rodas de autores e na minha cidade, bem, não tem nenhuma. Procuro blogs na internet para ver se alguém quer ver o que eu fiz, mas ninguém liga. Já tem seus favoritos, já tem as pessoas que puderam enviar seus físicos pelo correio cheio de mimos que eu não posso dar porque não trabalho. E ainda assim, continuo aqui. Porque quero acreditar que o que eu faço tem algo mais que um monte de parágrafos e frases misturadas em laudas do word. Quero continuar acreditando que alguém vai ler aquilo e tirar alguma coisa para si, que vai se entreter, ter um momento de prazer e viajar no que eu fiz. 
Então não importa se eu continuo sendo a gorda feia, que não é inteligente e não tem nenhum futuro. Enquanto eu puder ter as minhas palavras e a minha esperança, mesmo que não dê em lugar nenhum, eu vou continuar tentando...

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